http://tecnologia.uol.com.br/noticias/nyt/2016/09/24/por-que-poucas-mulhere…
Por que poucas mulheres editam a Wikipedia?
[image: The New York Times] Nicole Torres*
24/09/201606h00
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Em 2008, um estudo descobriu que menos de 13% dos colaboradores da
Wikipedia em todo o mundo eram mulheres. Uma pesquisa de seguimento em 2011
encontrou resultados semelhantes: globalmente, as mulheres eram 9% dos
colaboradores; nos EUA, 15%. Os índices de leitores não pareciam mostrar
uma diferença de gêneros significativa.
Essas descobertas provocaram um debate sobre o que desencoraja as mulheres
de contribuir --mas não houve grande mudança desde então. No ano passado, o
criador da Fundação Wikimedia, Jimmy Wales, disse que apesar de várias
iniciativas a organização não conseguiu cumprir sua meta de aumentar a
participação das mulheres para 25% até 2015.
Essa é uma questão empresarial para a Wikipedia, assim como social para a
era da informação. Com mais de 18 bilhões de acessos mensais, a Wikipedia é
o sétimo site mais visitado da web. Mas o número de editores no site em
inglês está diminuindo. O futuro da Wikipedia poderá depender de sua
capacidade de recrutar editores.
Julia Bear, da Faculdade de Economia da Universidade Stony Brook, e
Benjamin Collier, da Universidade Carnegie Mellon no Catar, exploraram a
questão pela perspectiva das mulheres que estão nos bastidores da
Wikipedia. Eles analisaram um subconjunto dos dados da pesquisa original de
2008 para ver se a experiência de editar artigos difere entre os gêneros e
se isso influencia o quanto eles editam. Encontraram claras diferenças.
As mulheres relataram que sentiam menos confiança em sua capacidade,
ficando menos à vontade para editar o trabalho de outros (processo que
muitas vezes envolve conflito) e reagindo de maneira mais negativa ao
feedback que os homens.
Já que contribuir com a Wikipedia muitas vezes significa apagar ou
modificar o trabalho de outros editores, há muitos conflitos. Guerras de
edição, discussões acaloradas entre usuários e assédio e perturbação podem
se juntar para criar um ambiente hostil.
"Até certo ponto, é preciso haver um nível básico de confiança para começar
a editar, e homens e mulheres podem ter critérios diferentes sobre a
perícia necessária para fazer isso", disse Bear. "É um dos motivos pelos
quais recomendamos que a Wikipedia seja mais proativa para encontrar e
incentivar colaboradores."
Bear e Collier também sugerem implementar um sistema para avaliar a perícia
dos colaboradores, dar feedback positivo e oferecer treinamento para
aumentar a participação das mulheres.
"A brecha de gêneros é importante por vários motivos", disse Bear. "De uma
mera perspectiva do conteúdo, homens e mulheres podem ter diferentes
interesses e preferências e podem enfocar diferentes temas. Se temos essa
pequena porcentagem de mulheres colaboradoras, muitos temas poderão ser
evitados ou receber menos atenção do que deveriam."
Quando Joseph Reagle, professor-assistente na Universidade Northwestern e
autor de "Good Faith Collaboration: The Culture of Wikipedia" [Colaboração
de boa fé: a cultura da Wikipedia], comparou as biografias da Wikipedia em
inglês com a Encyclopaedia Britannica online com a ajuda de um colega, eles
descobriram que a Wikipedia supera a Britannica em cobertura biográfica
--especialmente no que se refere a homens. A Britannica é mais equilibrada
em quem deixa de cobrir. E outros encontraram vieses na representação de
cientistas e romancistas mulheres na Wikipedia.
"A Wikipedia é uma representação do conhecimento", disse Reagle. "Se você
entra lá e não vê qualquer representação de modelos femininos, mostra um
viés implícito na maneira como as coisas são organizadas e priorizadas.
Isso pode ter uma consequência significativa nas pessoas."
Ao longo dos anos, a Fundação Wikimedia trabalhou para diminuir a brecha de
gêneros entre colaboradores e tornar o processo de edição menos agressivo.
Ela criou uma "força-tarefa de brecha de gêneros" e formas de os editores
expressarem gratidão e dar feedback positivo no site, organizou maratonas
de edição e lançou iniciativas como a Teahouse, que treinou novos editores,
e a campanha Inspire, que premiou 16 projetos para melhorar a diversidade
de gêneros e representação nos sites da Wikimedia.
A fundação também trabalhou para reduzir o assédio. Um projeto está
explorando o uso de ferramentas automatizadas para ajudar os
administradores a detectar e mediar conflitos precocemente, e estão em
preparação programas de mentores e treinamento para líderes voluntários.
"Aprendemos que melhorar a diversidade de gêneros é uma questão complexa,
que exige uma abordagem multifacetada", escreveu Dennis em um e-mail. "Não
há um método que sirva para todos. Visamos compreender melhor as políticas,
a cultura, as diretrizes e outros fatores que contribuem para um ambiente
seguro e receptivo online."
Há diversas outras maneiras de tornar a Wikipedia um lugar melhor para os
colaboradores (e para os leitores) --desde diminuir a brecha de gêneros em
técnicas de internet a incluir vozes mais diversificadas do mundo inteiro.
É claro que modificar uma cultura enraizada não é fácil, mas prestar
atenção no que afasta as pessoas é um bom ponto de partida.
**Nicole Torres é editora-adjunta da "Harvard Business Review".*
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Oi pessoal,
Vai acontecer um evento bem legal na Bahia, se chama AWID. Mais informações
no site do forum: http://forum2016.awid.org/home
Estou organizando um Hackathon virtual entre os dias 10 e 11 de setembro
para criar/ampliar as biografias de feministas fodonas que vão pra esse
fórum. Meu foco é Wikipedia PT, mas tem gente fazendo o mesmo para ES e EN.
Então vai rolar uma troca legal de referências nos vários idiomas.
Quem vamos?
--
°J°
Divulgando a entrevista que fiz com o Sergio Amadeu e com apoio do Grupo de
Usuários da Comunidade Wikimedia no Brasil:
http://wikimedianobrasil.org/na-wikipedia-o-estudante-insere-se-na-producao…
Abraços,
Teles
--
Steward for Wikimedia Foundation. Administrator at Portuguese Wikipedia and
Wikimedia Commons.
Sent from mobile. Please, excuse my brevity.
+55 (71) 98290-7553
Olá pessoal, anunciamos os vencedores do Wiki Loves Earth Brasil 2016
Segue link do anúncio:http://www.wikimedia.org.br/vencedores%20do%20wiki%20loves%20earth%20brasil%202016
Desde o inicio do concurso estamos com uma força tarefa para otimizar a utilização das imagens recebidas
https://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:Edit-a-thon/Atividades_em_port…
Mais de 240 artigos foram melhorados e vários outros foram criados a partir dos resultados do concurso.
Abraços
Rodrigo Padula
Coordenador de Projetos
Grupo Wikimedia Brasileiro de Educação e Pesquisa
http://www.wikimedia.org.br
21 99326-0558
Gostaria de saber de vocês se valeu a pena terem o selo do AffCom, quais
foram as vantagens para parar o processo vigente e reiniciar nos moldes
exigidos.
Quais foram os benefícios de afastarem voluntários chegando a permanentes
bloqueios sem razão [1].
E se foi bom para o Movimento WIkimedia no Brasil como um todo na visão de
vocês.
Valeu a pena?
----
E outra pergunta, para aqueles que disseram que eu afastava voluntários,
com 3 anos sem eu estar ativo aqui, era o problema?
Beijinhos.
[1]
https://br.wikimedia.org/wiki/Usu%C3%A1rio_Discuss%C3%A3o:Rodrigo_Tetsuo_Ar…
--
Rodrigo Tetsuo Argenton
rodrigo.argenton(a)gmail.com
+55 11 979 718 884
O I Congresso Científico Brasileiro da Wikipédia, que acontecerá nos dias 13
e 14 de outubro de 2016 na UNIRIO - Rio de Janeiro, está recebendo
submissões de trabalhos até o dia 20 de agosto de 2016.
A chamada de trabalhos aceitará propostas em inglês, espanhol e português
nos formatos Pôsteres, Artigos curtos e Artigos completos, divididos nos
seguintes eixos temáticos:
- Cultura Wiki
- Organização do conhecimento na Wikipédia
- Engajamento de edição na Wikipédia
- Ciência e colaboração na Wikipédia
- Projetos educacionais na Wikipédia
- Organização estrutural obtida a partir da Wikipédia
================ DATAS IMPORTANTES ================
Período de submissões: Aberto até 20 de agosto de 2016
Notificação de aceite: 11 e 12 de setembro de 2016
Inscrições : Abertas até 13 de outubro de 2016
Datas do congresso : 13 e 14 de outubro de 2016
-----------------------------------------
Para mais informações, acesse http://ccbwiki.wikimedia.org.br
https://motherboard.vice.com/pt_br/read/como-mentiras-na-wikipdia-afetam-o-…
Como erros, boatos, mentiras e pegadinhas na Wikipédia afetam o mundo real
Escrito por Cláudio Goldberg Rabin
7 July 2016 // 02:54 PM CET
<https://motherboard.vice.com/pt_br/read/como-mentiras-na-wikipdia-afetam-o-…>
<https://motherboard.vice.com/pt_br/read/como-mentiras-na-wikipdia-afetam-o-…>
<https://motherboard.vice.com/pt_br/read/como-mentiras-na-wikipdia-afetam-o-…>
<https://motherboard.vice.com/pt_br/read/como-mentiras-na-wikipdia-afetam-o-…>
<https://motherboard.vice.com/pt_br/read/como-mentiras-na-wikipdia-afetam-o-…>
Às 15 horas e 44 minutos de 14 de junho de 2015, na calada do anonimato da
Wikipédia, alguém mudou o local de nascimento da cantora Marina Lima.
Substituiu “Rio de Janeiro” por “Campo Maior”, no Piauí. Foi o início de
uma batalha entre a artista e a enciclópedia, com ares de Sessão da Tarde
misturado com Franz Kafka.
“Percebi que tinha alguma coisa estranha quando começaram a sair várias
matérias com a informação errada, inclusive na coluna do Nelson Motta”, diz
Leandro Nomura, assessor de imprensa da artista há cinco anos.
A pequena alteração ganhou dimensão nacional dois meses depois no Jornal da
Globo. O âncora William Waack chamou a coluna de Motta
<http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2015/0...> assim: “Bonita como
o Rio de Janeiro, Marina Lima é talvez a única carioca nascida no Piauí”,
naquele tom amistoso de apresentador de telejornal. Em seguida, Motta
repete o erro em sua homenagem aos 60 anos da cantora.
Marina Lima revoltada por não conseguir que a enciclopédia botasse seu
local de nascimento correto. Crédito: Reprodução/ Twitter
“Eu mesmo tentei corrigir as alterações, só que cada vez que eu fazia uma
mudança, eles a revertiam dizendo que tinham referências de que ela havia
nascido no Piauí”, lembra Nomura.
"Sabia que os pais de Marina eram do Piaui, mas fui traído pela Wikipédia",
nos disse, por mensagem, Nelson Motta.
Na mais completa enciclopédia multilíngue que já existiu, uma mentirinha
precisa ser digitada uma vez para ser tomada como verdade por incautos e
preguiçosos. Os casos de vandalismo digital são tantos que, ao longo dos
anos, a Wikipédia foi obrigada a criar hierarquias informais entre os
editores baseadas no “tempo de serviço” e na quantidade e qualidade das
modificações. A organização fundada por Jimmy Wales criou filtros de edição
que passaram a caçar o que o padrão de programação identifica como possível
atentado à verdade. Em geral, erros e mentiras são logo revertidos, mas
sempre passa alguma coisa — o que dá margem a problemas maiores.
Não raro, verbetes falsos ou com erros (deliberados ou não) alteram de
alguma maneira a realidade. E a pior parte é que, mesmo com controle de
edição e novas tecnologias de revisão, não é possível saber quantos boatos
e pegadinhas ainda existem por aí. Entre cômicos e dramáticos, ainda que
raramente trágicos, os exemplos são diversos.
Um deles é o verbete sobre o jurista Carlos Mirandópolis Bandeirense.
Nascido no Rio de Janeiro, Bandeirense lutou contra a ditadura, inspirou a
canção Samba de Orly, de Chico Buarque, e participou ativamente nas Diretas
Já. Sua existência, contudo, é fruto da traquinagem de dois advogados de um
escritório paulista que queriam pregar peça nos estágiários. Ficou
registrado de 2010 a 2016 e se tornou fonte para um decisão do Tribunal de
Justiça do Rio de Janeiro e para um trabalho de conclusão do curso de
Arquivologia da UFRGS.
Imagem usada para ilustrar o fictício jurista Carlos Mirandópolis
Bandeirense cuja morte teria ocorrido em 1984. Trata-se, na verdade, do
político austríaco Michael Häup, do Partido Social Democrata da Áustria,
ainda vivo. Crédito: Wikimedia Commons
O falso perfil é divertido: perseguido pela ditadura, Bandeirense foi
convidado a ocupar a cadeira de Ruy Barbosa na Academia Brasileira de
Letras, mas se recusou. Sua resposta foi um primor de estilo: "Como posso
ser imortal na terra em que já morri há muito?". Descoberta a farsa no
início deste ano, o verbete foi apagado da Wikipédia, mas sobrevive no Web
Archive
<https://web.archive.org/web/20160223125032/https://pt.wikipedia.org/wiki/Ca…>
.
Outra farsa famosa pelo grau de detalhes foi um verbete em inglês sobre um
conflito entre Portugal e Índia em 1640. Escrito em 2007, o “Bicholim
conflict” tinha 4.500 palavras que detalhavam a batalha imaginária. Por sua
qualidade, o artigo enganou os editores por cinco anos e recebeu a
distinção de “bom”, que é tipo como uma medalha de prata entre os verbetes
da Wikipédia. A fraude foi descoberta e apagada por um dos editores, não
sem antes enganar muita gente, ser usada em trabalhos escolares e engordar
o verbete sobre hoax famosos da enciclopédia.
A elaborada pegadinha da batalha que nunca existiu: fotos, imagens, fontes
e citações para enganar o leitor. Crédito: Wikimedia Commons
Para o professor de jornalismo da Universidade de Nova York, Charles Seife,
há uma explicação lógica nessas pegadinhas: a grande democratização da
informação também significa erosão da autoridade. “A maior desvantagem é
que a informação digital tem a habilidade de nos enganar ao mesmo tempo em
que tem a pompa de autoridade, mesmo sendo completamente falsa”, diz o
autor do livro *Virtual Unreality*, sem edição em português, que trata dos
perigos da informação digital.
Outra consequência, segundo Seife, é que há uma erosão da capacidade de
separar a informação boa da ruim. “A qualidade da Wikipédia é, em geral,
bastante decente. Se todos a usassem como um primeiro passo não teria
problema algum. Mas existem os preguiçosos que a tomam como uma fonte em
si. Os livros e jornais estão tomados de fatos duvidosos vindos da
Wikipédia.”
Por mais leitores críticos
E é bom se acostumar com a ideia de desconfiar sempre do que lê pela
internet. Esses problemas vão continuar acontecendo e são reflexo de uma
mudança na humanidade, que está migrando da cultura do modelo centralizado
para o descentralizado, segundo Ariel Kogan, diretor-executivo da Open
Knowledge Brasil, uma organização que advoga pelo conhecimento livre.
Para ele, o grande desafio da Wikipédia, que descentraliza a difusão de
conhecimento, é discutir mecanismos para aprimorar o sistema e, sobretudo,
como estimular especialistas a se tornarem editores. Kogan lembra como era
feito principal modelo anterior, a enciclopédia Britannica: “Tinha um ritmo
de atualização muito menor e menos conteúdo. É um modelo que precisa ter
sempre um interlocutor”. Além disso, não era de graça.
“A pergunta correta nunca é se a Wikipedia é confiável, mas se a fonte é
confiável. Quem colocou pode ter 12 anos ou ser um PhD, mas o que interessa
é ver a qualidade da fonte”, diz Célio Costa Filho, que é administrador na
Wikipédia desde 2005 e trabalha com plataformas wiki na educação.
De acordo com Filho, os mecanismos de segurança contra vandalismo digital
se aperfeiçoaram. Foram criados, por exemplo, filtros de edição e robôs que
impedem que usuários novos apaguem grandes blocos de texto, além de
controlar edições que contenham palavrões.
“Antes era possível, como já aconteceu, que alguém mudasse todo o verbete
‘Luiz Inácio Lula da Silva’ para apenas 'Lula igual molusco'. Isso não
acontece mais.”
O sistema também começou a reconhecer os usuários com base no tempo de
cadastro e na qualidade da edição, o que reforça a credibilidade do editor.
Para o educador, o dinamismo da Wikipedia é positivo porque permite
reconstruir e corrigir erros com rapidez.
Fabro Steibel, diretor-executivo do Instituto de Tecnologia e Sociedade do
Rio, também percebe a Wikipédia como parte do fenômeno da descentralização.
“Havia uma cultura centralizada em uma enciclopédia física por uma
instituição formada por ingleses brancos, definindo o rumo do
conhecimento", diz. "Agora temos um modelo que é incomparavelmente mais
diverso.”
Steibel, contudo, faz um alerta: “Quem tem um método de pesquisa, sabe que
a informação precisa ser triangulada. Ou seja: é perigoso usar a Wikipédia
como informação direta”. Para ele, está cada vez mais difícil saber se a
informação é verdadeira ou não porque há muitas subfontes que parecem
oficiais. “Um problema adicional é que o número de editores vêm caindo nos
últimos anos. Há cerca de 30 mil hoje em dia, o que é pouco.”
Colocar alguma informação falsa na Wikipédia lembra um pouco os tempos de
escola quando a gente riscava as mesas da classe e sobrava para a tia da
limpeza arrumar. Tem sempre um gaiato fazendo sujeira em verbetes
importantes ou irrelevantes. E sempre sobra para alguém limpar a sujeira
alheia — desde que ela seja encontrada e, em alguns casos, provada.
Nos Estados Unidos, há vários casos nos quais a sujeira só foi limpa depois
de afetar a realidade. Um deles partiu do verbete “infectado” do empresário
Julius Freed, fundador de uma empresa de sucos chamada Orange Julius. Na
biografia de Freed havia todo tipo informações bizarras sobre sua suposta
paixão por pombos. Ele teria estudado a fundo o comportamento das aves, com
objetivo de torná-las mais limpas. Daí sua grande invenção: um chuveiro
portátil para pombos.
A pegadinha do chuveiro para pombos no artigo de Julius Freed rendeu até
uma propaganda (séria) sobre a invenção. Crédito: YouTube
A informação ficou no ar por cinco anos: tempo suficiente para a empresa de
publicidade space150 criar um filme com base nas informações da Wikipédia.
No vídeo, de estilo semi-documental, lá está Freed observando os pombos,
tomando banho com eles e criando o tal chuveiro. Na verdade, o hoax fora
plantado por um funcionário da rádio pública de Miami chamado Joe Cassera.
Descoberta a farsa, ele disse que tinha escolhido a vítima de maneira
aleatória. Mas o objetivo era um só: mostrar que a enciclopédia não era
confiável.
O outro caso parte dos Estados Unidos, mas tem um pé no Brasil. Depois de
uma viagem com a família para Foz do Iguaçu em 2008, um garoto americano de
17 anos chamado Dylan Breves alterou o verbete em inglês sobre quatis, um
tipo de guaxinim, escrevendo que eles também eram conhecidos como
“Brazilian aardvark”. Seu motivo era apenas vencer uma discussão. O
Aardvark é um tipo de mamífero que só existe na África e não pertence nem a
mesma família de roedores do quati. De qualquer maneira, a informação se
espalhou e foi mencionada por dois jornais ingleses (*The Telegraph*
<http://www.telegraph.co.uk/news/earth/wildlife/7841796/Scorpions-Brazilian-…>
e *Daily Mail
<http://www.dailymail.co.uk/news/article-2305602/Hunt-runaway-aardvark-Lady-…>*),
aparece na busca por fotos do site Shutterstock
<http://www.shutterstock.com/s/%22brazilian+aardvark%22/search.html>, é
citado em um livro sobre o legado do Brasil holandês e em mais uma porrada
de blogs e sites menores. Já gigantesca, a mentira só começou a ser
desfeita em 2014, quando publicações como a The New Yorker
<http://www.newyorker.com/tech/elements/how-a-raccoon-became-an-aardvark>
relataram o curioso fato de um adolescente americano ter inventado uma
espécie nova pela internet.
Quatis protagonizaram a primeira especiação digital: viraram, sem querer,
Brazilian Aardvark. Crédito: Wikimedia Commons
Seife chama a enciclopédia de “uma besta diferente” das que estávamos
acostumados. A própria vantagem de ser atualizada a todo momento pode se
tornar um problema. “Quando alguém cita em um artigo ou livro uma algo
errado da Wikipédia, isso se torna uma referência externa que ajuda a
legitimar o erro que já estava lá”, diz. É uma espécie de retroalimentação
circular ou feedback loop.
O que traz de volta o caso da Marina Lima. As tentativas de seu assessor de
imprensa de corrigir a informação eram sempre revertidas porque já haviam
várias fontes indicando que ela era piauiense.
“Entrei em chats com editores, mandei emails para a Wikimídia, a Marina
postou no Twitter e no Facebook que era carioca, mas eles não aceitavam
como fonte. Ela chegou até a publicar sua certidão de nascimento nas redes
sociais. Nada adiantou”, lembra Nomura.
Mesmo com declarações da cantora foi difícil de resolver a questão. Lucas
Teles participou do debate dentro do site da Wikipédia. “Foi difícil de
resolver porque havia uma fonte para referenciar a informação e as regras
não permitem usar blogs, Twitter e Facebook como fonte, porque qualquer
pessoa pode editar e apagar a informação”, diz Teles, que é editor há 9
anos. Ironicamente, é o mesmo motivo pelo qual a Wikipédia não é usada como
fonte da própria Wikipédia.
A situação só foi solucionada depois de muito debate e muitos xingamentos
de Marina Lima à enciclopédia via Twitter. O colunista Ancelmo Gois
publicou uma nota, que passou a ser usada como referência. Ainda assim,
como uma cicatriz da polêmica, foi criado um item que explica a confusão no
verbete da cantora carioca.
Pesquisador de redes sociais na internet, o professor da pós-graduação da
UFRGS Alex Primo diz que pensar a Wikipédia como o local na internet onde a
verdade tem seu endereço é não ter entendimento nem do que é verdade nem
das estratégias de disputa da rede.
“A enciclopédia presta um grande serviço à humanidade. É um projeto que
visa transformar o conhecimento em algo que seja facilmente acessível e sem
copyrights. Estamos melhor com ela do que sem”, afirma.
Nem todos pensam assim. De acordo sua assessoria de imprensa, Marina Lima
considera o assunto o caso encerrado. Mas mandou um recado: ela não confia
na Wikipédia.
http://gizmodo.uol.com.br/estudo-comunidade-wikipedia/
Como a Wikipédia se tornou uma comunidade mais fechada, e como resolver isto
*Por: Jennifer Ouellette <http://gizmodo.uol.com.br/author/jennifero/>*
28 de abril de 2016 às 8:22
[image: wikipedia pc]
A Wikipédia é uma organização voluntária dedicada à nobre meta de criar
conhecimento descentralizado. Mas à medida que a comunidade evoluiu ao
longo do tempo, ela se afastou cada vez mais de seus primeiros ideais
igualitários, de acordo com um novo estudo publicado na revista Future
Internet <http://www.mdpi.com/1999-5903/8/2/14/html>. Na verdade, esses
sistemas geralmente acabam se parecendo muito com burocracias do século XX.
*>>> A Wikipédia fica mais agradável e fácil de navegar com o WikiWand
<http://gizmodo.uol.com.br/wikiwand-wikipedia/>*
*>>> Uma pessoa escreveu quase 10% de todos os artigos da Wikipedia
<http://gizmodo.uol.com.br/sverker-johansson-wikipedia/>*
O coautor Simon DeDeo, cientista de complexidade na Universidade de Indiana
(EUA), compara os primeiros usuários da Wikipédia – a maioria deles vindos
da cultura Usenet dos anos 90 – a figuras históricas como Rousseau,
Voltaire e Thomas Jefferson. “Mas o que acontece quando uma pequena
fantasia libertária tem que crescer?”, diz ele ao Gizmodo.
Para descobrir isso, ele e Bradi Heaberlin – pós-graduanda na Universidade
de Indiana – decidiram examinar o surgimento da hierarquia social e das
normas de comportamento online entre os editores da Wikipédia.
Eles examinaram 15 anos de dados da Wikipédia, envolvendo dezenas de
milhares de indivíduos, de 2001 a 2015. A conclusão: ela “se parece com um
sistema universitário, ou como a General Electric, ou como a operadora
AT&T”, diz DeDeo.
O que torna a Wikipédia um caso tão bom para testes é que ela foi fundada
em janeiro de 2001, quando a internet tinha uma fração do alcance atual. É
um conjunto de dados enorme, com mais de 5 milhões de artigos, milhões de
páginas “Discussão”, e mais de 587 milhões de eventos de edição. Isso
permite rastrear a forma como ideias abstratas complicadas – como
honestidade, justiça e autoridade – surgem e evoluem numa comunidade como a
Wikipédia.
A lei de ferro
Uma das descobertas mais impressionantes é que, mesmo na Wikipédia, vale a
chamada “lei de ferro da oligarquia
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_de_ferro_da_oligarquia>” – ou seja, o
domínio por uma pequena elite.
O sociólogo alemão Robert Michels cunhou a frase em 1911, enquanto estudava
os partidos políticos italianos, e isso o levou a concluir que a democracia
estava condenada. “Ele acabou trabalhando para Mussolini”, diz DeDeo – que,
claro, aprendeu sobre Michels via Wikipédia.
“Você começa com um sistema democrático descentralizado, mas com o tempo
começa a emergir uma classe de liderança com acesso privilegiado à
informação e às redes sociais”, explica DeDeo. “Os interesses deles começam
a se afastar do resto do grupo. Eles já não têm as mesmas necessidades e
objetivos. Assim, não só eles vêm para ganhar mais poder dentro do sistema,
como eles podem usá-lo de maneiras que entram em conflito com as
necessidades de todos os outros.”
Ele e Heaberlin descobriram que o mesmo aconteceu com a Wikipédia. As
normas fundamentais que regem a comunidade foram criadas por cerca de 100
usuários – mas a comunidade agora conta com cerca de 30.000.
Um estudo publicado em janeiro na revista Physical Review E
<http://journals.aps.org/pre/abstract/10.1103/PhysRevE.93.012307> parece
apoiar esta conclusão. Físicos do KAIST (Instituto Avançado de Ciência e
Tecnologia da Coreia do Sul) descobriram que um número relativamente
pequeno de editores da Wikipédia exerce uma grande influência sobre o site.
E assim como prediz a análise de DeDeo e Heaberlin, a desigualdade na
edição está aumentando ao longo do tempo. É agora bastante raro para um
recém-chegado invadir os escalões superiores dos chamados “supereditores”.
Isto, por sua vez, pode estar dificultando ainda mais o crescimento da
comunidade. Jinhyuk Yun, autor do estudo, disse à Physics Focus
<https://physics.aps.org/articles/v9/8>: “já existem relatos de que o
crescimento da Wikipédia está diminuindo, e nossa observação indica que
isso vai continuar, a menos que algo seja feito a respeito”.
O que fazer?
O trabalho dos editores é bastante necessário para evitar vandalismo. Isso
ficou bem claro durante as eleições 2014
<http://gizmodo.uol.com.br/wikipedia-governo/>: computadores do governo
estavam editando artigos para criticar a oposição política, mas essas
edições eram revertidas em horas ou até minutos.
No geral, à medida que os administradores lutaram para manter a qualidade
do site, eles criaram um ambiente tóxico para novos voluntários. E, como a
comunidade segue a “lei de ferro da oligarquia”, corremos o risco de um
pequeno grupo distorcer a enciclopédia para se adequar às suas opiniões ou
motivações. Por exemplo, no ano passado, 381 editores foram banidos
porque recebiam
dinheiro de empresas
<http://gizmodo.uol.com.br/wikipedia-bane-editores-por-extorsao/>
(envolvendo até extorsão) para impedir que as páginas delas fossem
vandalizadas.
Um estudo de 2013
<https://www-users.cs.umn.edu/%7Ehalfak/publications/The_Rise_and_Decline/>
feito por Aaron Halfaker, cientista-sênior de pesquisa da Fundação
Wikimedia, mostra a ascensão e queda no número de editores da Wikipédia em
inglês:
[image: decline]
*Imagem: Aaron Halfaker et al.*
E o mais preocupante: um salto na proporção de *boas* edições feitas por
usuários novos, mas que foram removidas – isso foi de 6% para mais de 20%,
mais ou menos na época em que a Wikipédia começou a perder editores.
[image: newbie_rejection]
*Imagem: Aaron Halfaker et al.*
Este problema do “delecionismo
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:Delecionismo>” – prática de
remover conteúdo que não atenda aos critérios dos editores – é reconhecido em
um artigo (não-oficial) na própria Wikipédia
<https://en.wikipedia.org/wiki/Wikipedia:Why_is_Wikipedia_losing_contributor…>:
“a
filosofia do delecionismo tem o efeito colateral de acabar com muito
conteúdo bom juntamente ao ruim – ninguém fica animado em participar de um
projeto quando escreve algo relevante e vê alguém desfazer tudo”.
O texto sugere algumas possíveis soluções, como a adoção de árbitros para
decidir se edições serão aceitas ou revertidas; e uma forma de “curtir” ou
“descurtir” edições para medir a confiabilidade de um usuário e editor.
Halfaker preparou uma solução na forma de inteligência artificial. O ORES
<https://meta.wikimedia.org/wiki/Objective_Revision_Evaluation_Service>
(Serviço Objetivo de Avaliação de Revisões) usa um conjunto de algoritmos
open-source de aprendizagem de máquina para identificar automaticamente
<http://www.wired.com/2015/12/wikipedia-is-using-ai-to-expand-the-ranks-of-h…>
se uma edição é vandalismo, ou se é uma mudança bem-intencionada. O ORES
vem sendo usado desde o ano passado
<https://www.technologyreview.com/s/544036/artificial-intelligence-aims-to-m…>
na Wikipédia em inglês, português, turco e persa.
Mas a Wikipédia pode fazer mais. Jinhyuk Yun recomenda o recrutamento ativo
de novos membros para quebrar o monopólio que aqueles poucos supereditores
têm sobre o gerenciamento de conteúdo. DeDeo concorda: “um mundo social tem
de se abrir a fim de prosperar”.
É algo semelhante ao que Ser Amantio di Nicolao disse em janeiro, quando a
Wikipédia completou 15 anos. Ele é o campeão de edições – foram mais de 1,5
milhão! – e afirma ao Vocativ
<http://www.vocativ.com/271501/most-prolific-wikipedia-editor/>: “as
pessoas agora parecem ser menos gentis com novatos do que me lembro dos
meus tempos antigos. A experiência de um novo editor ficou muito mais
difícil desde que comecei. Às vezes, acho que se eu estivesse começando
agora, eu não estaria nem perto de realizar um milhão de edições.”
A evolução da Wikipédia
A análise de DeDeo e Heaberlin demonstra que a Wikipédia é bastante
conservadora do ponto de vista evolutivo: ela preserva os aspectos que
funcionam desde o início.
À medida que a comunidade adicionou novos membros e cresceu rapidamente,
89% de suas normas fundamentais – “não escreva em letras maiúsculas”, “seja
neutro” – permaneceram iguais. Ninguém derruba uma norma existente, e
ninguém cria uma nova norma que se torna tão dominante como as originais.
Se uma norma em particular era importante em 2001, é provável que ela ainda
seja em 2015.
Os pesquisadores identificaram quatro “vizinhanças” centrais vagamente
organizadas em torno da qualidade de artigos, políticas de conteúdo,
colaboração e administradores.
Ao longo do tempo, estas quatro comunidades centrais se tornaram cada vez
mais separadas e interagiram cada vez menos. Em uma rede complexa, isto é
conhecido como dissociação.
[image: futureinternet-08-00014-g004]
*Imagem: S. DeDeo e B. Heaberlin*
Primeiro, as normas fundamentais são estabelecidas por membros fundadores
da comunidade. Aos poucos, elas se tornam mais abstratas e universais – uma
forma de racionalizar a instituição. “Elas funcionam menos para regular o
comportamento e mais para justificar o sistema e dar a ele um sentido de
legitimidade”, diz DeDeo.
Então, ao invés do pragmática “Não escreva em letras maiúsculas”, a norma
se torna “Seja civil”. Com o tempo, estas normas fundamentais alcançam
quase um status de mito. E, inevitavelmente, elas começam a entrar em
conflito umas com as outras.
No entanto, as tentativas de resolver esses conflitos são raras: em vez
disso, surge o tribalismo. Para alguns usuários da Wikipédia, o aspecto
mais importante da comunidade é a colaboração e respeito mútuo. Outros
valorizam informações neutras e verificáveis, ou veem a Wikipédia como uma
espécie de repositório “arca de Noé” de informação para depois do colapso
da civilização. Aqueles obcecados com a política de conteúdo podem pensar
que o aspecto mais importante da Wikipédia é ser aberta e compartilhada
livremente.
Isso é o oposto do que DeDeo esperava quando ele e Heaberlin iniciaram o
projeto. Ele pensou que, uma vez que as normas fundamentais iniciais fossem
estabelecidas, todo mundo iria se reunir como uma sociedade – um evento
chamado “nucleação de rede social”. Em vez disso, “os primeiros usuários
deixaram estas sementes, todos se agruparam em torno delas, mas as sementes
estavam em diferentes vizinhanças”, diz ele. “E ao longo do tempo, essas
sementes foram separadas umas das outras.”
DeDeo e Heaberlin realizaram uma análise puramente matemática de grandes
tendências nos dados da Wikipédia, ligando esta abordagem quantitativa com
a sociologia e ciência política. O próximo passo é colaborar com
antropólogos culturais para realizar uma leitura mais atenta.
“Nós precisamos entender como esses sistemas funcionam se vamos
compreender como será a economia do futuro. Esses sistemas não têm leis, e
sim tradições e normas”, diz DeDeo sobre a importância deste tipo de
pesquisa. “Eu acho que nós estamos investindo em pesquisas sobre algo que,
daqui a 200 anos, pode ser o maior problema no mundo, se não nos destruir
antes.”
[Future Internet <http://www.mdpi.com/1999-5903/8/2/14/html>]