ENTRE OS MAIORES OBSTÁCULOS ao pleno desenvolvimento do Brasil está a
educação. Este é o próximo grande desafio que deverá ser enfrentado,
com paciência, mas sem rodeios. É a bola da vez dentro das políticas
públicas prioritárias do Estado. Nos anos 90, o país derrotou a
inflação – que corroía salários, causava instabilidade política e
irracionalidade econômica. Na primeira década de 2000, os avanços se
deram em direção a uma agenda social, voltada para a redução da
pobreza e da desigualdade estrutural. Nos próximos anos, a questão da
melhoria da qualidade do ensino deverá ser uma obrigação dos
governantes, sejam quais forem os ungidos pelas decisões das urnas.
Um retrato da má educação no Brasil foi apresentado na última
terça-feira por um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea). Como sempre, há alguma boa notícia, novamente relacionada à
cobertura do sistema, a indicadores quantitativos, mas logo
descompensada pelos dados que mostram a qualidade no ensino.
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*Ler, escrever, contar e pensar*
O ENTUSIASMO NACIONAL pelo desempenho da economia brasileira, nestes
últimos anos, com repercussão da presença do país no mundo, esfarela,
diante de um dado alarmante: quase 20% dos alunos do ensino básico
repetem o ano, e muitos deles abandonam as escolas. A situação estava
pior há 10 anos, quando era de 26%.
Segundo a Unesco (e o bom senso), isso ocorre por causa da má
qualidade do ensino. Não ensinar, ou fingir apenas que ensina, é velha
política do Estado brasileiro. Desde o período colonial, o bom ensino
foi negado aos pobres, para que não faltassem servos aos ricos.
Quando, entre os pobres, alguma criança se destacava por uma
inteligência excepcional, tratavam de cooptá-la, como fizeram com
grandes negros, entre eles José do Patrocínio e André Rebouças. Fora
disso, era a reprodução selecionada: os ricos mandavam seus filhos
para as melhores escolas, para que continuassem nos quadros das
elites; aos pobres, ensinava-se apenas o necessário, para que pudessem
servir ao sistema de poder econômico.
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