Esse é aquele tipo de coisa que algumas pessoas já sabem, mas não
conseguiriam expressar de forma tão clara e cortante.
Obrigado!
Em 20 de fevereiro de 2013 10:05, Everton Zanella Alvarenga <
everton137(a)gmail.com> escreveu:
Sem tempo de elaborar melhor, mas quis escrever sobre
isso há alguns
anos por causa dessa confusão que fazem entre capítulo, movimento,
ideias etc.. Acredito que a Wikimedia Brasil defende a Igreja da
Razão, enquanto alguns acreditam ingenuamente que essa segundo
universidade é o que funciona. Tardou, mas não falhou. Tom
[...]
“O discurso começa referindo-se a uma notícia sobre um prédio de
igreja rural que tinha sobre a entrada principal um luminoso de marca
de cerveja. O prédio fora vendido, e estava sendo usado como bar. E de
supor que, a essa altura, a turma começasse a rir. As farras da
faculdade eram famosas, e a metáfora mais ou menos correspondia. O
artigo dizia que os provisores receberam algumas reclamações por causa
disso. Era uma igreja católica, e o padre encarregado de responder às
críticas parecia bastante irritado com o que estava acontecendo. Para
ele, o fato mostrava que as pessoas ignoravam o que fosse uma igreja.
Pensavam que tijolos, tábuas e vidro constituíam uma igreja? Ou o
formato do telhado? Aquilo era um exemplo do mesmo materialismo
desprezado pela Igreja, disfarçado em piedade. O prédio em questão não
era mais um lugar santo. Perdera o caráter sagrado, e pronto. O
anúncio de cerveja estava à porta de um bar, não de uma igreja.
Aqueles que não conheciam a diferença estavam simplesmente mostrando o
que eram.
Fedro declarou então que existia o mesmo tipo de confusão com relação
à universidade. E por isso era difícil compreender a perda do
reconhecimento. A verdadeira universidade não é um objeto material.
Não é um conjunto de edifícios que pode ser defendido pela polícia.
Quando uma faculdade perdia o reconhecimento, não vinha ninguém fechar
a escola. Não havia penalidades legais, multas, nem mandados de
prisão. As aulas não terminavam. Tudo continuava como antes. Os alunos
recebiam a mesma educação que receberiam se a escola continuasse sendo
reconhecida. Só que haveria aceitação oficial de uma situação já
existente. Era algo parecido com a excomunhão. A verdadeira
universidade, que nenhuma assembléia poderia influenciar, e que nunca
poderia ser identificada como qualquer disposição de tijolos, tábuas e
vidro, simplesmente declararia que este não é mais um “lugar santo”. A
verdadeira universidade deixaria este local, e só sobrariam os
tijolos, os livros e as manifestações materiais.
Os estudantes devem ter ficado perplexos ao ouvir tais idéias, e creio
que Fedro deve ter-se calado por um bom tempo, para que elas fossem
absorvidas, talvez esperando por uma pergunta do tipo: “E o que acha
você que é a verdadeira universidade?”
Em suas anotações encontra-se a seguinte resposta:
“A verdadeira universidade não se localiza num lugar específico.
Não tem propriedades, não paga salários, não recebe taxas materiais. A
verdadeira universidade é um estado de espírito. É a grande herança do
pensamento racional que nos foi legada ao correr dos séculos e que não
tem lugar específico para ficar. É um estado de espírito que se renova
através dos séculos, graças a um grupo de pessoas que ostentam
tradicionalmente o título de professor, título esse que, no fundo,
também não faz parte da universidade. A verdadeira universidade é nada
mais nada menos que o corpo contínuo da razão em si.
Além desse estado de espírito, a razão , existe uma entidade legal
que, infelizmente, atende pelo mesmo nome, mas que é muito diferente.
Esta é uma empresa sem fins lucrativos, uma filial do estado, com
endereço específico. Possui propriedades, pode pagar salários, receber
dinheiro e reagir também a pressões do legislativo.
Porém, esta segunda universidade, a empresa legal, não pode
ensinar, não pode gerar novos conhecimentos, nem avaliar idéias. Não é
a verdadeira universidade. É apenas o prédio da igreja, o cenário, o
local onde se criaram condições favoráveis para que a verdadeira
Igreja exista.
As pessoas que não enxergam essa diferença ficam sempre confusas,
pensando que controlar o prédio da igreja é o mesmo que controlar a
Igreja. Eles vêem os professores como empregados da segunda
universidade que deveriam deixar a razão de lado quando lhes fosse
solicitado e obedecer ordens sem objeções. Exatamente como os
empregados de outros tipos de empresa.
Enxergam a segunda universidade, não a primeira.”
[...]
O objetivo principal da Igreja da Razão é sempre o velho objetivo
socrático de buscar a verdade, em suas formas em constante mutação,
conforme é revelada pelo processo da racionalidade. Tudo o mais deve
subordinar-se a isso. Normalmente, tal objetivo não entra em choque
com o intuito local de edificar a comunidade, mas às vezes ocorrem
certos conflitos, como no caso do próprio Sócrates. É quando os
curadores e legisladores que contribuíram com grandes quantidades de
dinheiro e tempo para construir a sede da universidade se opõem às
aulas ou pronunciamentos dos professores. Passam então a pressionar a
administração, ameaçando cortar as verbas se os professores não
disserem o que eles querem ouvir. Coisas como essas também acontecem.
Em tais situações, os verdadeiros sacerdotes devem agir como se nem
tivessem ouvido as ameaças. Seu objetivo principal nunca é servir à
comunidade, acima de tudo. Seu objetivo principal é servir, através da
razão, à busca da verdade.”
[...]
Excertos. Capítulo 13, Zen e a arte da manutenção de motocicletas,
Robert M. Pirsig.
http://br.wikimedia.org/wiki/Wikimedia:%C3%81gora/Tempestade_de_id%C3%A9ias…
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