Pegando o impulso do ultimo email do Tom e lembrando que o Rodrigo
sempre manda eu compartilhar experiencias e eu sempre tenho preguiça.
La vai uma história sobre a organização da mesma malfadada
Wikimedia. Sei que não vou parar de falar mais, então tentarei ser
breve, mas sei que não vai adiantar.
Enfim, falarei de algo na mesma linha do e-mail do Tom.
Minha pequena experiencia pelo segundo ano julgando/tutorando
estudantes para o Google Summer of Code pela Wikimedia.
Acho que posso avaliar as diferenças entre as duas abordagens(IEG e GSoC)
Minha opinião é que o IEG está adotando uma abordagem errada, porque
ela está criando competição interna entre voluntários. Pense como um
voluntário que foi rejeitado:"Eu trabalho de graça por anos para a
fundação/movimento e na hora de patrocinar um projeto meu, eu não sou
bom o suficiente?"
Muito razoável esse pensamento. Se a pessoa já trabalha para a
fundação, como podemos julgar tão friamente o trabalho dela? Eles não
são profissionais em escrever propostas maravilhosas, o que elas
conhecem são as necessidades da comunidade e é isso que deve ser
explorado, e quanto antes percebermos isso, melhor.
Mas vamos ao que interessa: Como podemos financiar boas ideias sem
colocar o valor dos voluntários a prova?
Bem aí que entra o GSoC. O Google paga para estudantes "semi
profissionais" aplicarem as ideais de uma determinada comunidade.
Ou seja, as ideias são dadas por "voluntários" da comunidade e
aplicadas por "profissionais". Geralmente as ideias são coisas simples
e o processo de seleção das ideias é muito abrangente, basicamente
qualquer coisa que claramente a comunidade precise será aceita.
Então, se a ideia for útil e houver um profissional disposto a
trabalhar nisso, a ideia entra na disputa. Geralmente o voluntário que
deu a ideia ou que se identificou com a mesma vai tutorar o
profissional ensinando como funciona a interface de programação
mediawiki e/ou a comunidade.
E caso não haja um profissional de qualidade no período em questão, a
ideia pode ficar de molho para o próximo período
Normalmente os voluntários não propõem a ideia pra ganhar dinheiro,
eles simplesmente querem vê-la aplicada.
Mas no IEG quando você mistura "utilidade da ideia", "qualidade do
plano de aplicação" e "aptidão profissional" do voluntário.
Está claramente maculando o espírito colaborativo e hierarquizando voluntários.
Já quando os voluntários são responsáveis apenas pela ideia ou,
ocasionalmente, tutoria. E os profissionais são responsáveis pelo
plano de aplicação e pela aptidão profissional, o mesmo fenômeno não
acontece porque fica muito claro que o que está sendo julgado não é o
valor do voluntário ou a utilidade da sua ideia, mas sim um
profissional.
Quem tem o julgamento mais pesado é o profissional e geralmente eles
são de fora da comunidade e se forem rejeitados provavelmente não vão
achar que a fundação não os valoriza, eles vão entender.
E o mais interessante é que ranqueando pessoas de fora da comunidade
não perdemos muito se forem rejeitadas, e ganhamos muito quando são
aceitas. Mas quando fazemos isso com pessoas de dentro da comunidade
temos muito a perder e nem tanto a ganhar.
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Uma outra coisa interessante é que o processo de escolha dos
juízes/tutores do GSoC é muito mais aberto que o dos outros segmentos,
incluindo do FDC, e os próprios Adms da Wikipédia.
Você não precisa ser especialista nem ser votado, basicamente se você
fez contribuições de código com boa fé, você pode ajudar.
Eu me lembro que fui no IRC pedir pra alguém tutorar um estudante que
ia trabalhar numa ideia que eu gostava e me disseram que eu mesmo
poderia tutorar e participar do comitê. Isso resulta em um grupo maior
de pessoas interagindo, tornando as decisões um pouco menos
arbitrarias.
Percebem? Eu vou decidir pra quais pessoas o Google vai pagar 10 mil
reais, e eu nem precisei ganhar 500 votos ou enviar meu DNA por
correio. Parece estranho mas tem funcionado por anos.
Quando comecei a editar(esporadicamente) o mediawiki foi a mesma
coisa, basicamente me deram a ferramenta e quando eu errava me
notificavam.
O mais estranho é que não é uma coisa nova. É só o "assumir boa fé"
sendo aplicado.
Xi escrevi demais, por favor, comentem.
Foi um sacrifício largar meu acarajé e minha rede e escrever isso.
Mas se vier falar que não é o lugar certo pra dizer isso, dispenso ;)
Abraço!