*"Estamos na era da colaboração. A era da inteligência conectada”*
Gostei bastante da entrevista. As referências à Wikipédia e à denominada
"wikinomia", uma economia colaborativa são muito interessantes.
Tenho esperanças de viver o suficiente para ver nascer um mundo realmente
colaborativo, onde todos trabalhem em prol do coletivo e compartilhem
conhecimento e arte! #mundomelhor :D
Beijos, excelente dia para todos!!!
Ceci, se desculpando por estar "crosspostando" logo pela manhã! ;D
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"Discordo daquilo que dizes, mas defenderei até a morte o teu direito de o
dizeres". - Voltaire
---------- Mensagem encaminhada ----------
*Entrevista DON TAPSCOTT
A inteligência está na rede
*
*Revista Veja, ed. 2212, de 13/04/2011, pp. 19/23 (páginas amarelas)*
O canadense Don Tapscott, 64 anos, fala em um ritmo pré-digital: lento,
cadenciado, meticuloso. Nada nele trai que foi um rebelde nos anos 60,
insurgindo-se contra a guerra no Vietnã e na opressão da mulher, ou que seja
hoje um dos mais respeitados estudiosos do impacto da tecnologia nas
empresas e nas sociedades. Autor e coautor de catorze livros, Tapscott
participará no dia 3 de maio, em São Paulo, a convite do Grupo TV1, de um
seminário sobre o futuro do marketing. A internet, diz ele, não muda o que
aprendemos, mas o modo como aprendemos – e o impacto disso será tão intenso
quanto a invenção dos tipos móveis da imprensa por Gutenberg. “Não vivemos
na era da informação. Estamos na era da colaboração. A era da inteligência
conectada”, explica. Na entrevista a seguir, Tapscott diz como vê as
empresas e os governos da nova era.
*Há tecnologias que melhoram a vida humana, como a invenção do calendário, e
outras que revolucionam a história humana, como a invenção da roda. A
internet, o iPad, o Facebook, o Google são tecnologias que pertencem a que
categoria?*
À das que revolucionam a história. O que está acontecendo no mundo de hoje é
semelhante ao que se passou com a sociedade agrária depois da prensa móvel
de Gutenberg. Antes, o conhecimento estava concentrado em oligopólios. A
invenção de Gutenberg começou a democratizar o conhecimento, e as
instituições do feudalismo entraram num processo de atrofia. A novidade
afetou a Igreja Católica, as monarquias, os poderes coloniais e, com o
passar do tempo, resultou nas revoluções na América Latina, nos Estados
Unidos, na França. Resultou na democracia parlamentar, na reforma
protestante, na criação das universidades, do próprio capitalismo. Martinho
Lutero chamou a prensa móvel de “a mais alta graça de Deus”. Agora, mais uma
vez, o gênio da tecnologia saiu da garrafa. Com a prensa móvel, ganhamos
acesso à palavra escrita. Com a internet, cada um de nós pode ser seu
próprio editor. A imprensa nos deu acesso ao conhecimento que já havia sido
produzido e estava registrado. A internet nos dá acesso ao conhecimento
contido no cérebro de outras pessoas em qualquer parte do mundo. Isso é uma
revolução. E, tal como aconteceu no passado, está fazendo com que nossas
instituições se tornem obsoletas. Os exemplos estão por toda parte. As
instituições globais não conseguem resolver a crise da dívida na Europa. Os
jornais estão entrando em declínio. As universidades estão perdendo o
monopólio da educação superior. São instituições da era industrial, que
estão finalmente chegando ao fim.
*Quais são, na sua visão, as principais características da sociedade
pós-industrial?*
Na era industrial, tudo é feito para a massa. Criamos a produção de massa, a
comunicação de massa, a educação de massa, a democracia de massa, a
sociedade de massa. A característica central da sociedade industrial é que
as coisas começam com um (aquele que tem o conhecimento) e chegam a muitos
(aqueles que não têm conhecimento). No modelo da educação de massa, eu sou o
professor, porque tenho o conhecimento, e os outros são os alunos, porque
não têm o conhecimento. O fluxo é sempre no sentido de um para muitos. No
sistema de saúde, eu sou o médico, porque tenho o conhecimento, e os outros
são os pacientes, não apenas porque estão doentes, mas porque não têm o
conhecimento. De novo, é de um para muitos. A democracia de massa funciona
nos mesmos moldes. Os eleitores votam num dia, mas apenas um governa por
alguns anos. Na sociedade pós-industrial, o conhecimento será transmitido
não mais de um para muitos, mas de um para um ou de muitos para muitos. Será
a era da inteligência em rede, num sistema de colaboração de massa.
*No melhor espírito capitalista, as pessoas cuidam de seus próprios
interesses. Por que subitamente se entregariam à colaboração coletiva?*
Porque a internet está derrubando radicalmente o custo da colaboração e s
era do interesse das pessoas colaborar umas com as outras. Por exemplo: a
indústria chinesa de motocicletas é formada por centenas de pequenas
empresas que cooperam entre si. Não há uma empresa central, uma sede, uma
fábrica nos padrões tradicionais da era industrial. Os envolvidos se
encontram em casas de chá ou conversam on-line. Cada um responde por uma
parte do negócio. Um fabrica o sistema de ignição, outro faz os freios, um
recolhe o dinheiro, outro opera o marketing do produto. Em pouco tempo, essa
rede se tornou a maior indústria de motocicletas da China. No meu penúltimo
livro, chamei esse sistema de wikinomia, a fusão de “wiki” com “economia”. É
o princípio da Wikipédia aplicado à economia. A Wikipédia não tem dono, é
feita por 1 milhão de pessoas, já é dez vezes maior que a Enciclopédia
Britannica e é traduzida em 190 idiomas. Os estudos mostram que a Wikipédia
é quase tão precisa quanto a Britannica. A wikinomia é a arte e a ciência da
inovação colaborativa. Será a mudança mais profunda na estrutura das
corporações em um século. Vai mudar o modo como inovamos, o modo como
criamos bens e serviços. Como a internet reduz brutalmente o custo da
colaboração, as pessoas podem se juntar e criar valor, sem o sistema
tradicional de hierarquias.
*Qual é o setor da economia que melhor aplica os princípio da wikinomia?*
Há exemplos de empresas isoladas, não de setores inteiros. A Procter &
Gamble, conglomerado de produtos de higiene e limpeza, está usando a
colaboração em massa. Começou procurando uma molécula capaz de tirar mancha
de vinho tinto da roupa. Em vez de buscar a resposta entre os 7 mil
engenheiros químicos fora da empresa. Multiplicou a probabilidade de
encontrar o que busca. Quem sabe um químico aposentado em São Paulo ou um
químico recém-formado em Nova Délhi aparece com a resposta certa. Nesse
caso, a P&G paga 300 mil dólares ao químico e fica com um novo produto.
*Qual é o setor mais atrasado na wikinomia?*
Sem dúvida, o setor financeiro. Os bancos funcionam na velha base da
sociedade industrial. Pelo menos nos Estados Unidos, eles têm sido a própria
negação dos cinco princípios centrais da nova economia, que são:
colaboração, abertura, compartilhamento de propriedade intelectual
interdependência e integridade. A crise financeira de 2008 é resultado da
mais perfeita negação desses princípios.
*Na economia tradicional, há uma tensão permanente entre o estado e a
iniciativa privada. Nawikinomia, qual é o papel do estado?*
Os governos, com as toneladas de informações que possuem, podem se
transformar em plataformas para criação de valor. Recentemente, numa
conversa com autoridades de Melbourne, a segunda maior cidade da Austrália,
pedi um exemplo de dados arquivados pela polícia local. Eles citaram
estatísticas sobre acidentes com bicicletas. Eu disse: “Ótimo. Então
coloquem essas estatísticas na internet e aposto que, dentro de 24 horas,
alguém vai aparecer com algum tipo de mapa interativo dos lugares mais
perigosos. Em breve, as pessoas estarão evitando os locais mais perigosos e
Melbourne estará salvando vidas sem gastar um tostão”. É um exemplo trivial
de como os governos podem atuar como plataforma para criação de valor.
Considerando que os governos têm milhares de categorias de dados quem
poderiam divulgar, o potencial é enorme.
*Os governos têm tendência a esconder informação, e não a distribuí-la. Como
mudar isso?*
A ideia de que a concentração de informação é sinônimo de poder faz parte do
velho modelo industrial. Quando retemos conhecimento e informação, criamos
poder sobre as pessoas. No novo modelo, criaremos poder por meio das
pessoas. O caso da Goldcorp, empresa do setor de mineração, é exemplar. A
companhia estava insegura sobre onde tentar explorar ouro e tomou uma
atitude inédita: divulgou seus dados geológicos, que normalmente são o
grande segredo desse setor, e ofereceu um prêmio a quem tivesse a melhor
análise que indicasse onde fazer uma exploração. A empresa pagou 500 mil
dólares em prêmio e encontrou 3,4 bilhões de dólares em ouro. O valor de
mercado da Goldcorp pulou de 90 milhões para 10 bilhões de dólares.
*Na era da colaboração em massa, as pessoas serão mais influentes do que
hoje, seja como cidadãos, eleitores ou consumidores?*
As revoluções no Oriente Médio são a prova de mudança dessa natureza. Até
três meses atrás, todas as revoluções eram verticais. Havia um líder e uma
vanguarda. Eles organizavam a revolução e, quando o velho regime caía,
tomavam o poder. A mesma dinâmica pautava todas as revoluções, pouco
importando seu arcabouço ideológico. Foi assim com George Washington, com
Fidel Castro ou Mao Tsé-tung. Agora, como a internet reduz o custo da
colaboração, as pessoas podem se unir da noite para o dia com uma força tão
extraordinária a ponto de, no Egito, derrubar Hosni Mubarak. O Oriente Médio
está fazendo wiki-revoluções. São revoluções que só acontecem de modo
repentino e horizontal em decorrência das mídias sociais, principalmente o
Facebook. Na Tunísia , havia franco-atiradores da polícia escondidos nos
telhados para disparar contra os manifestantes nas ruas. Os jovens rebeldes
tiravam foto, triangulavam a localização dos franco-atiradores e mandavam os
dados para aliados nas unidades militares, que, em seguida, saíam às ruas
ara desmobilizar os atiradores. As mídias sociais não servem só para
localizar a namorada ou fazer comunidade de jardinagem. Elas salvam vidas.
Isso não quer dizer que a tecnologia esteja instigando levantes populares
pelo mundo. Apenas que mudou o modo como são feitos. Antigamente, a
militância saía colando cartazes nos postes.
*Mas os regimes autoritários não censuram o fluxo de informação na internet,
controlam a rede, podendo até tirá-la do ar?*
É verdade, mas os governos árabes que tentaram cortar a internet deram um
tiro no próprio pé. Os ditadores queriam impedir que os jovens se
articulassem, mas o efeito colateral foi que o pequeno comerciante não pôde
fazer sua encomenda on-line, a mãe não recebeu o diagnóstico do filho
doente, e assim por diante.
*Atualmente, em muitos países os jovens são maioria, vivem numa economia de
desemprego altíssimo e têm acesso a uma tecnologia poderosa. É uma mistura
explosiva, não?*
Sim. Estamos caminhando para um choque de gerações. Começou na Tunísia, com
a revolução do desemprego. Os jovens correspondem a uma enorme parcela da
população hoje, à exceção da Europa Ocidental e do Japão. Além de numerosos,
eles são a geração mais bem instruída da história, e a tecnologia lhes
permite saber o que está acontecendo, distribuir informação e organizar
respostas coletivas. Os jovens de hoje cresceram ouvindo que se estudassem
com dedicação e não se metessem em problemas teriam uma vida confortável na
idade adulta. Mentimos para eles. Chegaram ao mercado de trabalho e não há
emprego. Esses jovens esperavam muito mais do que a realidade está lhes
oferecendo.
*A tecnologia digital conectada vai liberalizar também o regime chinês, que
hoje é ditatorial?*
Para mim, é inquestionável que as restrições da China à liberdade de
expressão causam danos à economia. A longo prazo, a Índia, por ser mais
aberta e ter uma sociedade mais colaborativa, tem melhores chances que a
China. A Foxconn é a maior fabricante de componentes eletrônicos do mundo,
emprega 900 mil pessoas na China, mas é descrita como uma prisão de
segurança mínima. Boa parte dos trabalhadores mora na própria fábrica. A
taxa de suicídio é alarmante. Pesquise imagens da Foxconn no Google. Você
verá que colocaram redes em torno do edifício para impedir que os
trabalhadores se matem jogando-se da janela. A Foxconn, com seu regime
militar de produção, pode ser ótima para a economia, mas seu benefício é
limitado.
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