Betty,
Minha mensagem não contestava o que disseste, portanto não estive
defendendo um ponto de vista nem meus argumentos poderiam ser superiores
às tuas palavras. Estava apenas apresentando alguns fatos paralelos à
questão do grau de influência do poeta sobre o impulso criativo que, por
assim dizer, o domina.
Contudo, agora que levantou a questão, eu não tenho tanta certeza
disso, mas talvez esta lista não seja o lugar mais adequado para
discutir isso. :)
Especialmente quando podemos fazê-lo no Bistrô!
(ver o tópico "Inspiração")
Um abraço,
ale
~~
On 05/25/2010 12:48 AM, bvh wrote:
Sim, pensei nos desenvolvedores de software, Ale!
Pensei, pq sei q bem q matemática é diversão -- eu tb me divirto com ela
-- e quem trabalha com isso se apaixona pelo q faz... mas não tem como
escapar de usar para isso conhecimento adquirido (lembrei daquele
anúncio da Intel no rádio, não se vc já ouviu, em q um cara convida
outro pra sair e o outro diz q vai "assim q terminar umas equações". E o
telefonador pergunta: "cê tá trabalhando em pleno sábado à noite?" e o
outro: "ah, não é trabalho, não... é uma coisa q tou fazendo pra mim
mesmo". E aí vem aquela frase do locutor: "nossos passatempos são
diferentes dos seus".)
O talento do programador é inato, claro!, mas pôr esse talento pra
funcionar seria impossível "from scratch", de forma totalmente
intuitiva. Não dá pra um analfabeto pegar um micro e sair "criando" do
mesmo jeito q um analfabeto pode, sim, improvisar uma modinha com
métrica correta e esquema de rimas perfeito desde os 4 ou 5 anos de
vida, sem q tenha sido preciso q ninguém lhe ensinasse nada (enquanto os
estudiosos q aprenderam na escola todas as regras de um bom poema e
"decidiram" compor ficam ali pélejâno, tirando uma sílaba de cá, botando
outra acolá, suando pra evitar rimas pobres -- aquelas q o outro nem
faz, nunca fez, pq o ouvido dele sabe sozinho o q é bom. E isso não
significa usar palavras "difíceis", mas só usar as palavras certas. As q
o "djinn" lhe soprou e q ele simplesmente "psicografa".) (De certa
forma, ok? Não quero envolver nada de sobrenatural nesse conceito.).
Vc defende mto bem o seu pto de vista, com argumentos sensatíssimos e
mto superiores aos meus... Não me detive em analisar o q é engodo e o q
não é. Não raciocinei em termos de economia de mercado nem de efeitos
para a sociedade.
---------------------
[Cursei Física pq coisas práticas e aplicáveis me atraem -- e tb pq
naquele tempo todo adolescente queria ser astronauta ou cientista. Mas
sei q nada daquilo era intuitivo pra mim: divertido, mas aprendido.
Naquele tempo, "o" computador da faculdade, na USP, ocupava uma sala de
3x4 metros e era refrigerado com a água de um laguinho q ficava onde hj
é o estacionamento dos fundos. Depois fiz uns cursos na IBM, tive um
TK2000, um aparelho de videotexto da Telesp (alguém lembra disso? qdo a
gente falava q era possível conversar com pessoas numa sala virtual ou
jogar com alguém em qq lugar de São Paulo, usando esse aparelho, achavam
q era mentira), depois um PC/XT do Itaú e uma impressora Rima... e por
aí foi.* De modo q posso usar um micro com tanta intimidade qto a de um
motorista dirigindo seu carro, e os gestos necessários para o uso dos
comandos são internalizados a ponto de ser realizados inconscientemente,
o raciocínio envolvido parece não ser raciocínio. Mas é... E não é
natural. É aprendido.
Arte é diferente. Ninguém ensina. Ela vem sozinha. E vem qdo quer. Não
adianta a gente "querer" escrever um poema. Não é o dono da mão q decide
se o poema vem ou não. Acho q é uma espécie de esquizofrenia... :-)
Imagino q o mesmo aconteça com músicos, pintores e escultores. Mas não
com matemáticos, físicos e químicos. O talento deles é inato, mas os
resultados dependem de aplicar algum esforço ao q fazem, algum método
aprendido -- ou inventado, se o cara for um Pitágoras. Mas há um método
consciente.
Poema a gente faz em alfa, é como se fosse outra pessoa fazendo.
Dorme-se, acorda-se com um poema pronto, escreve-se, dorme-se de novo. É
impossível fazer com o consciente ligado. Por isso eu disse q é como
respirar...]
Mas enfim. O q eu queria mesmo dizer é q não pretendia participar de
debate a respeito disso... e já estou debatendo!
* esses equipamentos foram doados em 2006 para o Museu da Computação e
Informática,
http://www.mci.org.br/museu/doador.html
abraço aí!
Betty
Alexandre Hannud Abdo wrote:
Ni!
On 05/22/2010 01:12 PM, bvh wrote:
Não estendo este conceito a software, por
exemplo, pq é bem diferente.
Desenvolver um software é "trabalho". Depende de conhecimento adquirido.
Arte não deveria ser trabalho. Se 'escrevo' desde antes de saber
escrever (ditava para quem soubesse), devo receber pagamento por algo q
é um "dom"? Se recebi um dom q não foi dado a todos, devo ser
recompensada por isso com grana? O dom em si já não é privilégio q
chegue? Estou soando pretensiosa?
BVH, você dá um motivo bastante peculiar para sua posição de liberdade.
Não sei dizer se é esse raciocínio que motiva a maior parte do movimento
de cultura livre, mas quero apenas observar que seu argumento aplica-se
perfeitamente ao software e, se você não entende, é apenas porque não é
uma programadora apaixonada como é uma escritora.
Programar e ver seu programa realizar a tarefa proposta com perfeição dá
um tesão tão natural quanto terminar um poema emocionante ou uma
escultura. O tal do "parla!".
Acontece que, em ambos os casos, o interesse da sociedade e portanto de
um governo democrático não é promover aquilo que as pessoas sofrem pra
fazer, mas promover a produção do que a sociedade quer, independente do
executor sofrer ou ter prazer em fazê-lo.
Assim, não dá pra argumentar que apenas pela pessoa ter tesão em fazer
algo que esse algo não precisa ser promovido. O que pode-se argumentar é
que ele não precisa ser promovido através da proibição de seu uso quando
não licenciado pelo autor.
O grande engodo é a idéia de que o autor vai produzir mais se tiver o
direito de monopolizar o uso da sua obra. Ou que isso é necessário para
que exista uma forma organizada de promovê-lo. Esta é a grande mentira
que está por detrás do sistema de direito patrimonial do autor.
A arte, como a programação, também é um serviço que pode ser oferecido
em troca de dinheiro, como o teu serviço de supervisão literária, e isso
nada tem a ver com monopólios ou restrições. Da mesma forma, existe um
mercado de encomendas, como existe ainda a promoção pela coletiva da
cultura, com total liberdade, seja na forma de incentivos do Estado ou
de uma economia da dádiva, como a que mantém a infraestrutura dos
projetos Wikimedia.
As editoras, assim como as empresas de tecnologia de informação,
precisam se adaptar a esse mercado de serviços e abandonar a dependência
dos monopólios intelectuais que, por fatos básicos da economia de
mercado, prejudicam toda a sociedade.
E os autores, despertar para sua autonomia e clamar sua liberdade, junto
com as responsabilidades que essa nova realidade conduz. E conduz a
todos nós, pois a qualidade de autor foi sempre uma figura de mercado,
nunca uma realidade humana.
Abreijos,
ale
~~
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