2010/5/1 Castelo Branco <michelcastelobranco@gmail.com>
Luiz,

Se você teve essa impressão, ele pode ter tido também (se é que chegou a
ler), e gostaria de tirar a má impressão. Não tenho nada contra a
participação dos acadêmicos, de maneira alguma. E gostaria de ajudar a
mostrar que é possível, sim, que o projeto comporte a todos, professores
e alunos. Mantenho o convite para um trabalho em conjunto, em um artigo
de astronomia. Quem quiser se juntar a nós, será muito bem-vindo,
qualquer que seja o nível de escolaridade. Quem sabe não o levamos a
destaque?

Não tentei ser arrogante, mas sim quebrar este paradigma. Escrevemos
sobre tudo, não precisamos ser especialistas, simplesmente porque não
produzimos conteúdo na Wikipédia (ver "não-inclusão de pesquisa
inédita", ou WP:NPI). Se fosse para escrever uma tese sobre o tema, eu
estaria fora, pois não tenho competência para isso. E essa capacidade,
Luis, não é só minha, é de milhares de editores que transformam a
Wikipédia no que ela é hoje: um projeto amplo, de temas os mais variados
possíveis e inimagináveis. Usei o "eu", naquela frase, para que não
viesse um questionamento sobre um artigo específico, em que alguém se
absteve de participar. Esperava mesmo era uma resposta positiva, como um
tema para um artigo que pudéssemos fazer juntos, sobre Astronomia,
mesmo, que seja. Queria ter tido a oportunidade de mostrar que a
construção do conteúdo independe do conhecimento prévio no assunto. Se
assim fosse, eu já deveria ter ido embora destes projetos. Afinal, edito
muito pouco sobre o que costumo saber, e conheço menos ainda sobre o que
costumo editar.

Enfim, este local onde ele escreveu, o Fale com a Wikipédia (ex-Linha
Direta) recebe manifestações deste tipo todos os dias. E as reações
variam muito. Lembrei-me do Dória porque foi uma das poucas em que não
conseguimos reverter a situação por meio do diálogo. O Jo Lorib faz
grande trabalho lá. Neste mesmo lugar, conheci um bom editor, que trouxe
um problema, o ajudamos, ele virou meu tutorado, amigo, e hoje está a me
dar lições no projeto, e também a seus alunos, já que é, por ironia,
professor universitário. E tem os exemplos que a Betty e o Nevinho
citaram. Continuo achando que o paradigma existe, mas não se aplica a
todos. Casos de sucesso nesse sentido são muitos e acho que o do Dória,
pela vontade que ele apresentou na chegada ao projeto, pode mesmo ser
revertido.

Continuo à disposição, como disse.

CB



Não precisa explicar para mim, eu conheço muito bem como é o funcionamento de projetos colaborativos e, nesse caso específico, de wikis. Concordo e apoio totalmente o fato de qualquer um poder colaborar com o assunto que quiser, independente do grau de conhecimento formal, bastando a boa vontade. Afinal, sendo aberto para todos editarem e tendo um número mínimo de editores e usuários ativos, é tido como principio que caso haja a inclusão de conteúdo incorreto haverá sempre alguém, mais cedo ou mais tarde, que o identificará e corrigirá.

Mas uma questão importante é que quanto mais gente participando ativamente mais ágil será o processo, e tendo a participação de quem já possua  de antemão conhecimento em áreas específicas, mais rápido ainda será a correção e o aperfeiçoamento dos verbetes. Por tal editor já conhecer as fontes e o assunto, um trabalho que levaria dias para um leigo poderá ser feito em minutos.

Mesmo não fazendo pesquisa inédita, apenas agregando e reunindo conhecimento consolidado, vários assunto necessitam de um bom nível de conhecimento para serem tratados corretamente. É muito fácil buscar informações publicadas em diversas fontes fiáveis -- sendo que o que é fiável para uma área não necessariamente o é para outras -- e juntar em um mesmo texto argumentos ou teorias conflitantes como se fossem complementares. Além disso é muito difícil fazer um texto leve e simples, para um público geral, de algum assunto complexo, mesmo tendo um conhecimento sólido, e continuar mantendo algum rigor para não passar ideias erradas. Dizer que qualquer um é capaz de editar e corrigir um verbete sobre qualquer assunto, inclusive da área que o interlocutor dedicou boa parte da vida estudando e se dedicando e que vê besteiras sem fim serem proferidas todos os dias na mídia em geral, e achar que não será visto como uma ofensa é um tanto ingênuo. 

O problema todo, nesse caso, teve início, segundo o João, por um artigo no qual o professor não incluiu fontes, assumindo que sua posição acadêmica seria o suficiente. Apesar do meio científico pregar a importância da verificabilidade e desprezar o argumento de autoridade, infelizmente não é isso que realmente acontece no meio acadêmico. O professor vindo de tal meio teve um choque de realidade ao reproduzir na wiki algo mais do que natural para ele. Porém não vi um esforço muito grande de tentar mostrar que na wiki a verificabilidade é quem manda e o argumento de autoridade é totalmente desprezado e por isso da importância das fontes e de editores que são "garotos não identificados". De que foi uma escolha consciente essa troca de paradigma e que é justamente isso que fez a wikipedia dar certo. Mas ao invés disso houve um grande sentimento de ofensa por ambos os lados. Com isso continuará de tempos em tempos aparecendo gente bem intencionada que sentira tal impacto, os demais editores continuaram sem saber como acolhe-las e integrá-las, haverá mais desentendimentos e continuaremos perdendo voluntários valiosos. E ficará ainda pior com membros que preferem partir para ridicularizações do que tratar tais questões com seriedade.

Mas que fique claro que não estou aqui defendendo que haja revisores "acadêmicos titulados", apenas que seria de interesse do projeto a incorporação de tais voluntários, mantendo a atual organização "horizontal".


-- 
Luiz Armesto

luiz.armesto@gmail.com (email, gtalk, msn)

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