2010/1/20 Rodrigo Pissardini <rodrigopissardini@gmail.com>
Só para contrariar o Tom, na minha opinião conhecimento apenas pelo conhecimento é coisa utópica e errônea. Conhecimento tem que estar aliado à sua utilização. Por negligenciar isto que temos faculdades cheias de acadêmicos sem conhecimento prático algum, alunos incapazes de entender e utilizar conceitos de áreas de conhecimento como a matemática etc.
 
Só pra botar lenha na fogueira, pegando o embalo do Pissardini, lembrei de um trecho da reportagem "Artur tem um problema" que li um dia desses. Diz assim:
Para a maioria das pessoas, a utilidade da matemática parece óbvia: pontes, projeções econômicas, algoritmos de computador. Boa parte dos matemáticos acha essas aplicações desinteressantes. "O que serve para a vida é banal e chato", disse Hardy, num livrinho clássico de 1940 intitulado Em Defesa de um Matemático. "A matemática que pode ser usada para tarefas comuns pelo homem comum é desprezível, e aquela que serve aos economistas e sociólogos não serviria nem como critério para conceder uma bolsa de estudos a um estudante de matemática", escreveu. "A verdadeira matemática dos verdadeiros matemáticos, a matemática de Fermat, Euler, Gauss, Abel e Riemann, é quase toda ela inútil."

O texto completo está disponível aqui:
http://publique.rdc.puc-rio.br/clipping/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=22424&sid=83&tpl=printerview

 
Não vou ser radical: poderiamos nos dar ao luxo do conhecimento pelo conhecimento, se nossa vida básica fosse totalmente regulada pelo conhecimento científico, e por ora, estamos bem longe disto. Não temos racionalidade e nem condição de vida confortável para mais da metade da humanidade. Russel era um filósofo de butequim, um aristocrata que poderia se dar ao luxo de dizer estas coisas que mencionou. Muitos de nós não. Uma enciclopédia não deve ter apenas "informação geral", tem que dar ao seu leitor (que geralmente é alguém sem acesso à informação) ferramentas para análise e uso no seu dia-a-dia, e não ser apenas um lugar de divagação ociosa.
 
Apesar de exageradas, faço minhas as palavras de Conan Doyle pela boca de Sherlock Holmes em Um Estudo em Vermelho neste sentido :
 
Minha surpresa maior, porém, foi descobrir, incidentalmente, que ele desconhecia a Teoria de Copérnico e a composição do sistema solar. Encontrar um homem civilizado, em pleno século XIX, ignorando que a Terra gira em torno do Sol, era algo dífícil de acreditar, de tão extraordinário.
- Você parece espantado - disse ele, rindo da minha surpresa. - Agora que sei, farei o possível para esquecer.
- Esquecer?
- Veja bem - explicou. - Para mim, o cérebro humano, em sua origem, é como um sótão vazio que você pode encher com os móveis que quiser. Um tolo vai entulhá-lo com todo tipo de coisa que for encontrando pelo caminho, de tal forma que o conhecimento que poderia ser-lhe útil ficará soterrado ou, na melhor das hipóteses, tão misturado a outras coisas que não conseguirá encontrá-lo quando necessitar dele. O especialista, ao contrário, é muito cuidadoso com aquilo que coloca em seu sótão cerebral. Guardará apenas as ferramentas de que necessita para seu trabalho, mas dessas terá um grande sortimento mantido na mais perfeita ordem. É um engano pensar que o quartinho tem paredes elásticas que podem ser estendidas à vontade. Chega a hora em que, a cada acréscimo de conhecimento, você esquece algo que já sabia. É da maior importância, portanto, evítar que informações ínúteis ocupem o lugar daquelas que têm utilidade.
- Mas o sistema solar! - protestei.
- O que isso tem a ver comigo? - interrompeu com impaciência. - Você disse que giramos ao redor do Sol. Se girássemos em torno da Lua, não faria a menor díferença para mim e para meu trabalho.
 Rodrigo

Também nesta linha, lembro de um amigo meu ter comentado que quando um profissional de certa área (que não me recordo qual) perguntou "para que me serve essa matemática que você estuda?", recebeu como resposta algo como "E para que serve o que você faz, na minha matemática?"

Vamos conversando...

Helder



 

 
2010/1/20 Everton Zanella Alvarenga <everton137@gmail.com>

2010/1/20 nevio carlos de alarcão <nevinhoalarcao@gmail.com>:
>> A Wikipédia não é um lugar para "informação útil".
>>
>> É uma enciclopédia colaborativa.
>>
>> Existe um abismo imenso entre uma enciclopédia colaborativa e um
>> repositório de informação útil.
>>
>> Quem insiste em ignorar esse abismo apenas afunda o projeto nele.
>
> Obrigado pro reconhecer minha boa intenção. A Análise feita é pertinente,
> mas não concordo com essa distinção entre utilidade e colaboração. Não
> insisto, nem insisti em ignorar o suposto abismo, apenas não percebo isso e
> até gostaria de ser melhor esclarecido, para não estar talvez afundando algo
> que prezo bastante.

Névio, recomendo o texto 'Conhecimento "inútil"', de Bertrand Russell,
que pode ser encontrado o livro 'O elogio ao ócio'. Aqui está uma
resenha:

http://infoeducacaousp.blogspot.com/2008/04/resenha-do-captulo-o-conhecimento-intil.html

---

"Neste capítulo (O conhecimento inútil), o autor traça um rápido
histórico da visão do valor do conhecimento, da Renascença até o
século XX (mais especificamente o período entre-guerras).
Segundo ele, na Renascença:

"a instrução fazia parte da alegria de viver , tanto quanto beber ou
amar (...) A principal causa da Renascença foi o prazer mental, a
restauração de uma certa riqueza e liberdade na arte e na
especulação..." (Russell)

A seguir ele nos lembra de que a partir do século XVIII até o momento
em que ele escreveu o livro (eu me arriscaria a dizer que até agora):

"Em toda parte o conhecimento vai deixando de ser visto como um bem em
si mesmo ou como um meio de criar-se uma perspectiva de vida humana
abrangente e se transforma em mero ingrediente da aptidão técnica
(...) Não temos, portanto, tempo mental para adquirir outros
conhecimentos além daqueles que hão de nos ajudar na luta pelas coisas
que consideramos importantes." (Russell)"

---

Uma lista de telefones de lojas do tipo X do meu bairro é uma
informação que pode ser útil. Não é papel de uma enciclopédia fornecer
esse tipo de conhecimento. Pode-se, é claro, construir
colabortivamente um site que agregue esse tipo de informação, mas isso
é diferente de uma enciclopédia. Por exemplo, pretendo criar uma lista
de serviços na região da av. Paulista, separados por categoria. Usarei
um serviço como wikia.com ou wikidot.com, não a Wikipédia. Será uma
informação útil para muitas pessoas, mas não é útil no mesmo sentido
de saber sobre a história do Brasil.

--
http://blogdotom.wordpress.com/sobre

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