Sim, pensei nos desenvolvedores de software, Ale!

Pensei, pq sei q bem q matemática é diversão -- eu tb me divirto com ela -- e quem trabalha com isso se apaixona pelo q faz... mas não tem como escapar de usar para isso conhecimento adquirido (lembrei daquele anúncio da Intel no rádio, não se vc já ouviu, em q um cara convida outro pra sair e o outro diz q vai "assim q terminar umas equações". E o telefonador pergunta: "cê tá trabalhando em pleno sábado à noite?" e o outro: "ah, não é trabalho, não... é uma coisa q tou fazendo pra mim mesmo". E aí vem aquela frase do locutor: "nossos passatempos são diferentes dos seus".)

O talento do programador é inato, claro!, mas pôr esse talento pra funcionar seria impossível "from scratch", de forma totalmente intuitiva. Não dá pra um analfabeto pegar um micro e sair "criando" do mesmo jeito q um analfabeto pode, sim, improvisar uma modinha com métrica correta e esquema de rimas perfeito desde os 4 ou 5 anos de vida, sem q tenha sido preciso q ninguém lhe ensinasse nada (enquanto os estudiosos q aprenderam na escola todas as regras de um bom poema e "decidiram" compor ficam ali pélejâno, tirando uma sílaba de cá, botando outra acolá, suando pra evitar rimas pobres -- aquelas q o outro nem faz, nunca fez, pq o ouvido dele sabe sozinho o q é bom. E isso não significa usar palavras "difíceis", mas só usar as palavras certas. As q o "djinn" lhe soprou e q ele simplesmente "psicografa".) (De certa forma, ok? Não quero envolver nada de sobrenatural nesse conceito.).

Vc defende mto bem o seu pto de vista, com argumentos sensatíssimos e mto superiores aos meus... Não me detive em analisar o q é engodo e o q não é. Não raciocinei em termos de economia de mercado nem de efeitos para a sociedade.

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[Cursei Física pq coisas práticas e aplicáveis me atraem -- e tb pq naquele tempo todo adolescente queria ser astronauta ou cientista. Mas sei q nada daquilo era intuitivo pra mim: divertido, mas aprendido.
Naquele tempo, "o" computador da faculdade, na USP, ocupava uma sala de 3x4 metros e era refrigerado com a água de um laguinho q ficava onde hj é o estacionamento dos fundos. Depois fiz uns cursos na IBM, tive um TK2000, um aparelho de videotexto da Telesp  (alguém lembra disso? qdo a gente falava q era possível conversar com pessoas numa sala virtual ou jogar com alguém em qq lugar de São Paulo, usando esse aparelho, achavam q era mentira), depois um PC/XT do Itaú e uma impressora Rima... e por aí foi.* De modo q posso usar um micro com tanta intimidade qto a de um motorista dirigindo seu carro, e os gestos necessários para o uso dos comandos são internalizados a ponto de ser realizados inconscientemente, o raciocínio envolvido parece não ser raciocínio. Mas é... E não é natural. É aprendido.
Arte é diferente. Ninguém ensina. Ela vem sozinha. E vem qdo quer. Não adianta a gente "querer" escrever um poema. Não é o dono da mão q decide se o poema vem ou não. Acho q é uma espécie de esquizofrenia...  :-)
Imagino q o mesmo aconteça com músicos, pintores e escultores. Mas não com matemáticos, físicos e químicos. O talento deles é inato, mas os resultados dependem de aplicar algum esforço ao q fazem, algum método aprendido -- ou inventado, se o cara for um Pitágoras. Mas há um método consciente.
Poema a gente faz em alfa, é como se fosse outra pessoa fazendo. Dorme-se, acorda-se com um poema pronto, escreve-se, dorme-se de novo. É impossível fazer com o consciente ligado. Por isso eu disse q é como respirar...]

Mas enfim. O q eu queria mesmo dizer é q não pretendia participar de debate a respeito disso... e já estou debatendo!

* esses equipamentos foram doados em 2006 para o Museu da Computação e Informática, http://www.mci.org.br/museu/doador.html

abraço aí!

Betty




Alexandre Hannud Abdo wrote:
Ni!

On 05/22/2010 01:12 PM, bvh wrote:
  
Não estendo este conceito a software, por exemplo, pq é bem diferente.
Desenvolver um software é "trabalho". Depende de conhecimento adquirido.
Arte não deveria ser trabalho. Se 'escrevo' desde antes de saber
escrever (ditava para quem soubesse), devo receber pagamento por algo q
é um "dom"? Se recebi um dom q não foi dado a todos, devo ser
recompensada por isso com grana? O dom em si já não é privilégio q
chegue? Estou soando pretensiosa?
    

BVH, você dá um motivo bastante peculiar para sua posição de liberdade.
Não sei dizer se é esse raciocínio que motiva a maior parte do movimento
de cultura livre, mas quero apenas observar que seu argumento aplica-se
perfeitamente ao software e, se você não entende, é apenas porque não é
uma programadora apaixonada como é uma escritora.

Programar e ver seu programa realizar a tarefa proposta com perfeição dá
um tesão tão natural quanto terminar um poema emocionante ou uma
escultura. O tal do "parla!".

Acontece que, em ambos os casos, o interesse da sociedade e portanto de
um governo democrático não é promover aquilo que as pessoas sofrem pra
fazer, mas promover a produção do que a sociedade quer, independente do
executor sofrer ou ter prazer em fazê-lo.

Assim, não dá pra argumentar que apenas pela pessoa ter tesão em fazer
algo que esse algo não precisa ser promovido. O que pode-se argumentar é
que ele não precisa ser promovido através da proibição de seu uso quando
não licenciado pelo autor.

O grande engodo é a idéia de que o autor vai produzir mais se tiver o
direito de monopolizar o uso da sua obra. Ou que isso é necessário para
que exista uma forma organizada de promovê-lo. Esta é a grande mentira
que está por detrás do sistema de direito patrimonial do autor.

A arte, como a programação, também é um serviço que pode ser oferecido
em troca de dinheiro, como o teu serviço de supervisão literária, e isso
nada tem a ver com monopólios ou restrições. Da mesma forma, existe um
mercado de encomendas, como existe ainda a promoção pela coletiva da
cultura, com total liberdade, seja na forma de incentivos do Estado ou
de uma economia da dádiva, como a que mantém a infraestrutura dos
projetos Wikimedia.

As editoras, assim como as empresas de tecnologia de informação,
precisam se adaptar a esse mercado de serviços e abandonar a dependência
dos monopólios intelectuais que, por fatos básicos da economia de
mercado, prejudicam toda a sociedade.

E os autores, despertar para sua autonomia e clamar sua liberdade, junto
com as responsabilidades que essa nova realidade conduz. E conduz a
todos nós, pois a qualidade de autor foi sempre uma figura de mercado,
nunca uma realidade humana.

Abreijos,

ale
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