Alexandre,
Tens razão. Minha intervenção vai nesse sentido.
Veja: para não cairmos nessa ambigüidade, tem a solução simples (que vc mesmo coloca): batalhar o tempo todo pelo auto-financiamento, quer dizer, nunca ficarmos dependentes das doações.
As doações, quando houverem, devem ter um objetivo claro, por exemplo: permitir a realização de um evento. Ela se encerra em si. Acabou o evento, acabou a doação. Que fique bem claro: quem contribuir financeiramente para o evento não terá qualquer benefício do tipo "logotipo no convite", "convite especial" ou coisas do tipo.
Alguém aqui falou da Microsoft. Bom, a Microsoft tem uma série de iniciativas que promovem a construção do conhecimento coletivo e livre. Pasmem, é verdade. O Codeplex, por exemplo:
"CodePlex is Microsoft's open source project hosting web site. Start a
new project, join an existing one, or download software created by the
community."
Não tenho problema nenhum em apoiar essa iniciativa ou outras do tipo.
Por outro lado, se a Microsoft chega e diz: "tá aqui a grana, eu quero...". Dizemos: "não, obrigado, passar bem". O mesmo para qualquer um (inclusive a UNESCO). Isso tem que ficar muito claro.
Creio que chegamos a um consenso no ponto "financiamento". Mais alguém quer acrescentar algo?
-- Porantim
2008/12/9 Alexandre Hannud Abdo <abdo@usp.br>:
> Ni!
>
> Apóio que eventuais doações sejam não-públicas, não-prestadoras e
> não-dedutíveis.
>
> Mas não gosto da idéia de restringir seletivamente doações a "quem
> concorda conosco".
>
> Isso implicitamente define que "aprovamos" quem nos financiar, ou seja,
> informalmente dá um certificado a quem aceitarmos, perante a sociedade,
> e isso impõe uma responsabilidade que exige um processo rigoroso e
> continuado para aceitarmos uma doação.
>
> Acho irreal imaginar que teremos essa capacidade ou que queremos esse
> poder.
>
> A própria noção de que o dinheiro "vem do bem" é muito relativa, pois
> poderíamos facilmente encontrar uma situação onde recebemos o dinheiro
> dum parceiro "do bem", mas com detrás alguém "do mal" articulando.
>
> Não é nessa camada que evitaremos isso com eficiência e minha percepção
> é de que seria de fato negativo para nós.
>
> Se o Greenpeace aceita dinheiro dos petroleiros e deixa de atacá-los
> por isso é porque suas ações dependem desse dinheiro. Se não dependessem
> não se importariam.
>
> Doa quem quiser, o importante é que os princípios orientem o uso desse
> dinheiro de forma que mantenha nossa independência e autonomia.
>
> Portanto essa questão, ao meu ver, move-se para o princípio de que as
> atividades devem sustentar-se sem os donativos.
>
> Qualquer dinheiro que vier será usado com critério e pontualmente, mas
> não deve ter lugar no coração dos projetos em si.
>
> Outra coisa, se vamos nos estabelecer como Movimento, o quanto essa
> discussão de financiamento ainda faz sentido? Como ela precisaria ser
> reformulada?
>
> Abs,
>
> PS: Gente, se vamos usar esses "tags" no assunto dos e-mails, então
> usemo-los e não abordemos mais de um assunto em cada e-mail. Vamos
> também pensando numa maneira de futuramente mover essa discussão pra
> wiki de forma que cada tema fique organizado com sua talk page. Mas, por
> hora, está sendo bom amadurecer as idéias por aqui.
>
> ale
> ~~
>
>
> On Mon, 2008-12-08 at 17:55 -0800, Joaquim Mariano da Costa Neto wrote:
>>
>> Eu sempre gostei da idéia de aceitar dinheiro de alguém contra
>> quem nós trabalhamos. Pessoalmente, acho que reforça e valoriza o
>> nosso trabalho saber que alguém tentou comprar nossa simpatia e não
>> foi bem sucedido. Não seria interessante se, por exemplo, o Greenpeace
>> recebesse dinheiro da Standard Oil e, mesmo assim, ocupasse as suas
>> refinarias? Obviamente a Standard Oil suspenderia os cheques no dia
>> seguinte. De qualquer forma, acho que isso reforçaria a isenção do
>> Greenpeace.
>>
>> O problema disso é a mulher de César. Realmente é difícil se fazer
>> acreditar honestamente, quando quem paga as suas contas é justamente
>> quem você diz combater.
>>
>> Assim, quanto a essa restrição de doação, sou indiferente. Eu sei
>> o que faço e sei que um cheque da Microsoft, por exemplo, não vai
>> mudar o que faço. Como já disse, eu pessoalmente até gostaria de
>> receber um cheque da Microsoft e mostrar para ela que eu continuo
>> defendendo o software livre exatamente como eu defendia.
>>
>> Se acharem cabível, o ponto de reforço pode ser aprofundado:
>>
>> - As doações que aceitarmos não serão dedutíveis de qualquer tributo e
>> não implicarão qualquer privilégio, ônus, obrigação, dependência ou
>> vinculação com o doador. Não receberemos doação de doador que
>> discorde, contrarie ou viole os nossos princípios estabelecidos ou as
>> ações e atividades que empreendemos.
>>
>> Quanto à democratização do conhecimento, é muito simples: não se
>> alcança a democratização do conhecimento sem que a educação seja
>> democratizada. Sem educação plena, nenhuma Wikipédia consegue
>> democratizar o conhecimento. E para democratizar a educação, ela
>> precisa ser boa, ampla (vertical e horizontalmente), gratuita,
>> excitante (porque pensar e aprender deveriam ser atividades
>> extremamente prazerosas), etc., etc., etc. Pontos sobre financiamento
>> estão rodando. E sobre conhecimento e educação? Vamos?
>>
>> Joaquim Mariano da Costa Neto
>>
>>
>>
>>
>>
>> ______________________________________________________________________
>> De: Porantim <porantim@gmail.com>
>> Para: Mailing list do Capítulo brasileiro da Wikimedia.
>> <wikimediabr-l@lists.wikimedia.org>
>> Enviadas: Segunda-feira, 8 de Dezembro de 2008 22:29:42
>> Assunto: Re: [Wikimedia Brasil] [Organização]
>>
>> Joaquim, gostei da sua formulação, mas acho que falta ainda alguma
>> coisa.
>>
>> Além de declararmos que não vamos nos meter nessa fossa que são as
>> ONGs no Brasil, temos que dizer que nos posicionamos contra o que
>> fazem.
>>
>> Será que aceitamos dinheiro de qualquer um? O Greenpeace, por exemplo,
>> tem suas contas pagas pela Standard Oil (dona da Exxon Mobil e uma das
>> maiores poluidoras do mundo), através da Fundação Rockefeller [1].
>> Como pode se dizer sério se quem paga suas contas é quem vc diz
>> combater? Óbvio que o Greenpeace nunca se levantou contra a Exxon ou a
>> SO...
>>
>> Na mesma linha, se defendemos a democratização do conhecimento,
>> precisamos defender a democratização da educação, sua gratuidade,
>> qualidade e dignidade.
>>
>> -- Porantim
>>
>>
>> [1]
>> http://www.rbf.org/grantsdatabase/grantsdatabase_show.htm?doc_id=616987
>> http://www.undueinfluence.com/greenpeace.htm
>>
>>
>>
>> 2008/12/8 Joaquim Mariano da Costa Neto <joaquimmariano@yahoo.com.br>
>>
>> Concordo com todos os pontos colocados pelo Porantim na
>> mensagem abaixo e na justificativa.
>>
>> Se entendi corretamente, a idéia é não aceitar dinheiro
>> público (inclusive aquele dinheiro que é deduzido de impostos,
>> que, na verdade, é dinheiro público cujo destino é resolvido
>> pelo particular) e não aceitar dinheiro mediante contrapartida
>> (prestação de serviço, por exemplo). Nesse sentido, doação
>> privada não dedutível é algo permitido. Assim, talvez fosse
>> interessante reforçar que a doação não nos obriga em nada.
>> Então, uma idéia para um ponto de reforço:
>>
>> - As doações que aceitarmos não serão dedutíveis de qualquer
>> tributo e não implicarão qualquer privilégio, ônus, obrigação,
>> dependência ou vinculação com o doador.
>>
>>
>> Joaquim Mariano da Costa Neto
>>
>>
>>
>>
>>
>> ______________________________________________________________
>> De: Porantim <porantim@gmail.com>
>> Para: Mailing list do Capítulo brasileiro da Wikimedia.
>> <wikimediabr-l@lists.wikimedia.org>
>>
>> Enviadas: Segunda-feira, 8 de Dezembro de 2008 20:09:36
>>
>> Assunto: Re: [Wikimedia Brasil] Res: [Organização]
>>
>>
>>
>> Alguns dos pontos que creio que não podemos abrir mão são
>> (falando em
>> financiamento):
>>
>> - Acreditamos que o dinheiro público deve ser usado no serviço
>> público, na escola pública, na saúde pública, no transporte
>> público.
>>
>> - Não aceitamos financiamento público nem direta nem
>> indiretamente.
>> Não aceitamos benefícios fiscais em troca de doações.
>>
>> - Não prestamos serfiços públicos, seja em forma de Oscip, PPP
>> ou
>> qualquer outra.
>>
>> - Cremos na educação pública, gratuita, laica e de qualidade,
>> para
>> todos, em todos os níveis.
>>
>> - Não prestamos nenhum tipo de serviço em troca de paga direta
>> ou
>> indiretamente. Nosso trabalho é voluntário e gratuito.
>>
>> A justificativa e formulação já foram enviadas à lista em
>> 28/11.
>>
>> -- Porantim
>>
>>
>>
>> 2008/12/8 Thomas de Souza Buckup
>> <thomasdesouzabuckup@gmail.com>:
>> > Obrigado Porantim. Sim, ajudaria bastante se você pudesse
>> responder às
>> > perguntas resumidas na minha última mensagem, assim
>> conseguiremos avançar
>> > com a discussão, sabendo também a sua opinião sobre o
>> assunto de forma ainda
>> > mais sistematizada.
>> >
>> > Com relação à [Organização] e [Financiamento], acredito
>> profundamente no que
>> > está escrito nos dois primeiros parágrafos (copiados abaixo)
>> da
>> > primeira proposta para a Carta de Princípios:
>> >
>> > "A Wikimedia Brasil é um espaço aberto para debate, desenho
>> de propostas,
>> > articulação de ações e troca de experiências entre
>> voluntários interessados
>> > em realizar de maneira descentralizada e auto-organizada
>> iniciativas que
>> > promovam produções colaborativas de conhecimentos livres a
>> serviço do
>> > desenvolvimento harmonioso da humanidade. [Organização]
>> >
>> > A Wikimedia Brasil articula com independência e autonomia
>> iniciativas que
>> > podem contar com a colaboração de organizações públicas,
>> privadas e da
>> > sociedade civil, mas, sem representá-las, ou por elas ser
>> representada, em
>> > qualquer esfera." [Financiamento]
>> >
>> > Acredito que o texto acima destaca os elementos fundamentais
>> ("abertura",
>> > "descentralização", "auto-organização", "independência" e
>> "autonomia") para
>> > que voluntários sintam-se sempre engajados e se tornem
>> empoderados para
>> > atuar, independentemente de formatos jurídicos ou condições
>> de financiamento
>> > específicos, que podem se alterar ao longo do tempo de
>> existência desta
>> > comunidade.
>> >
>> > Num primeiro momento, que pode durar poucos anos ou algumas
>> décadas,
>> > considero como adequado o modelo de um movimento que conta
>> exclusivamente
>> > com a dedicação e articulação voluntária de sua comunidade.
>> Mas não tenho a
>> > pretensão de saber ou determinar qual o formato jurídico ou
>> a relação com
>> > potenciais financiadores que deverá existir em 2050. Vejo
>> apenas o
>> > compromisso de assegurarmos hoje que "abertura",
>> "descentralização",
>> > "auto-organização", "independência" e "autonomia" façam
>> parte do modelo
>> > escolhido pela comunidade hoje e em 2050, pois disso "não
>> podemos abrir
>> > mão", respondendo ao comentário da Béria.
>> >
>> > Você é certamente muito bem-vindo a modificar ou detalhar
>> cada um dos pontos
>> > com o seu ponto-de-vista, caso discorde ou concorde com a
>> minha opinião.
>> >
>> > Abraços,
>> > Thomas
>> >
>> >
>> >
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