Ale,

Acho que entendi as suas colocações e, por isso, tenho algumas dúvidas.

Passei os olhos no Common Wisdom e pretendo lê-lo por completo e com cuidado em breve.

Você disse basicamente que a proposta de produzir colaborativamente livros didáticos não é infactível, mas é bastante difícil, trabalhosa e complexa, além de estar sujeita a uma evolução muito lenta e até mesmo ao insucesso.

Considere a seguinte hipótese: uma plataforma wiki para produção colaborativa dos livros didáticos de matemática dos ensinos fundamental e médio, com acesso e edição facultados a todos professores do ensino público estadual (professores de matemática e das demais disciplinas) e a alguns professores das universidades estaduais. Qual a probabilidade de sucesso? Após quanto tempo essa chance de sucesso é alcançada?

Imagino que, por impossibilidade de se calcular isso, a resposta talvez se limite a um palpite. De qualquer forma, um palpite de alguém que entende do assunto é muito melhor do que nada. Por isso, não se acanhe em palpitar números. ;-) 30% de chance de sucesso? 60%? 78,5%?

Quem mais quiser palpitar é bem-vindo.

Abraços,

Joaquim






De: Alexandre Hannud Abdo <abdo@usp.br>
Para: Mailing list do Capítulo brasileiro da Wikimedia. <wikimediabr-l@lists.wikimedia.org>
Enviadas: Sábado, 21 de Março de 2009 4:45:23
Assunto: Re: [Wikimedia Brasil] Res: Livros didáticos

Ni!

Oi Rodrigo,

A proposta inicial era auxiliar produzir colaborativamente os livros
didáticos utilizados no estado, uma vez que serão impressos e
distribuídos aos alunos e professores pela secretaria da educação.

O que você está descrevendo é muito bonito para professores
informatizados, com pleno domínio do assunto que lecionam, com muitas
horas livres para prepararem seus cursos.

Apenas tudo o que os professores da rede pública estadual não tem.

Agora voltando à realidade, um livro didático é uma obra coerente, onde
cada parte deve interagir com as demais de forma equilibrada para
refletir a proposta pedagógica que o embasa e orientar o professor tendo
em vista o trabalho continuado em sala de aula.

Não existe um módulo independente em um bom livro didático, cada
assunto é tratado à luz dos assuntos anteriores e a linguagem e a
complexidade das idéias crescem junto com o aprendizado, numa proporção
geralmente informada pela experiência do autor em sala de aula.


A estrutura hierárquica que eu descrevera busca que este fim seja
obtido canalizando o máximo de colaborações sem perder essa coerência
global.

Não disse que era a única forma, mas a princípio, ao apenas
abandonar-se qualquer hierarquia, passa a ser necessário escolher entre
contribuições ou coerência.

Nem disse que isso não poderia seria feito numa wiki. Mas um bom livro
didático pode ser produzido até num caderno, e correções de erros feitas
por carta, basta ser uma obra individual ou de um grupo coeso. O desafio
é fazê-lo de forma mais participativa, senão a wiki estará ali para
posteridade.


Abs,

ale
~~


On Sat, 2009-03-21 at 01:31 -0300, Rodrigo Tetsuo Argenton wrote:
> Bah! Que hierarquia o que guri, façamos um livro no Wikibooks, que
> siga uma orientação pedagógica e quem não gostar, abra outro capítulo
> com a outra vertente e a escola que escolha o que quer utilizar, é
> tri-legal essa abertura, a escola ganhará mais de uma visão e mais de
> um modo de trabalhar, poderíamos conversar com educadores, ou com os
> professores de pedagogia da USP, por exemplo, para ver qual o melhor
> caminho para adotar, o que é melhor para a gurizada, mas deixar claro
> que qualquer outra vertente pode ser tomada.
>
> Haverá pontos que não tem o que fugir, matemática vai ter que seguir
> com as operações básicas e avançar, mas tem que ser um livro descente
> que permita o usuário ir a uma olimpíada de mat e ganhar :D
>
> Poderíamos até fazer a melhor apresentação do mundo, mas ainda haverá
> indagações de quem somos... Acho melhor definirmos nos próximos dias
> quem somos, conversar com pessoas das áreas de educação, aumentar o
> conhecimento na área, estudar o que podemos fazer e quando definido
> quem somos e ter uma base de argumentação forte, apresentar. Pois pode
> ser que tenhamos apenas um tiro para dar, então é melhor nos
> emponderarmos e utilizar uma .50, do que tentar acertar com uma bala
> de chumbinho.
>
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De: Alexandre Hannud Abdo <abdo@usp.br>
Para: Mailing list do Capítulo brasileiro da Wikimedia. <wikimediabr-l@lists.wikimedia.org>
Enviadas: Sábado, 21 de Março de 2009 1:03:30
Assunto: Re: [Wikimedia Brasil] Res: Livros didáticos

Ni!

Concordo com o Pietro, o desenvolvimento do ParaEntender é incompatível
com o de um bom livro didático.

Existem bons argumentos questionando a eficiência de produzir-se livros
didáticos colaborativamente. A dificuldade de modularizar os assuntos é
a principal delas.

O ParaEntender apenas contorna essas dificuldades, pois os textos não
foram produzidos como um conjunto nem dialogam entre si. A maioria deles
sequer cita o assunto dos demais.


Meu convite para participar no livro deu-se justamente em consequência
do juliano vir questionar-me sobre esse assunto.

Uma coisa que recomendei a ele, e recomendo novamente aqui, é dar uma
olhada no seguinte texto que, apesar de denso, vale a leitura

http://www.benkler.org/Common_Wisdom.pdf

A parte final, "Higher Order Materials: Textbooks and Immersive Play
Environments", trata o caso de produção colaborativa de livros,
comentando inclusive as dificuldades do wikibooks (na pág. 17).

Isso não quer dizer que a proposta seja infactível, apenas que não terá
o crescimento exponencial espontâneo que projetos como a Wikipédia tem.


Ainda assim há experiências positivas de colaboração em livros mais
complexos, onde os módulos são menos bem definidos e dialogam entre si.

Um exemplo são os romances de ficção escritos por fãs de certas
narrativas no japão (pra variar mil anos à frente do resto do mundo) e,
mais recentemente, por fâs de séries de livros para jovens como
"Twilight".

Contudo, tanto quanto vejo, o método mais utilizado ali é o da
serialização e bifurcação: você evolui a narrativa sem alterar os fatos
dados, ou cria uma nova linha ficcional listando os eventos aos quais
ela adere. Também não há preocupação em manter o mesmo estilo ou a uma
coerência forte do texto.

Não vejo como isso se encaixaria na proposta de textos didáticos.

E enfim, há o Connexions, que o Tom mencionou. Ele tem uma proposta
explícita de colaboração não-linear, contudo mesmo ali parece-me que a
reutilização e remixagem não é tão frequente, nem são tantos os
colaboradores sobre cada recurso.


Em suma, módulos trabalhosos e com vínculos fortes entre eles são
características de livros didáticos que dificultam sua produção social
paritária em larga escala.

Um possível modelo eficiente de produção wiki desses recursos
contemplaria atores com fortes estímulos ao envolvimento e
comprometimento com tais projetos, ocupando lugar numa hierarquia
meritocrática espontânea, responsável por evoluir os módulos e integrar
as contribuições vindas da base.

Quem conhece deve ter notado, isso é apenas uma abstração da
organização de projetos complexos de software livre.


Abs,

ale
~~


On Fri, 2009-03-20 at 08:11 -0700, Pietro Roveri wrote:
> Vocês consideram esse trabalho um livro? Na minha opinião é um guia.
> Não falo pelo número de páginas, mas pela forma com que o conteúdo é
> apresentado. Isso não é nenhuma crítica e não tira o mérito do
> trabalho, porém, se vamos discutir sobre livros, que seja o modelo
> adequado.
> Talvez o Ale, que é autor, possa contribuir comentando minha opinião.
> Abraços,
>
> Pietro
>
>
>
>
> ______________________________________________________________________
> De: Everton Zanella Alvarenga <everton137@gmail.com>
> Para: Mailing list do Capítulo brasileiro da Wikimedia.
> <wikimediabr-l@lists.wikimedia.org>
> Enviadas: Sexta-feira, 20 de Março de 2009 11:42:48
> Assunto: Re: [Wikimedia Brasil] Livros didáticos
>
> Sobre a produção de um livro, vejam o que Juliano Spyer diz sobre a
> produção do livro lançado esses dias, 'Para entender a Internet'
> <http://stoa.usp.br/oerworkshop/files/1333/7925/Para+entender+a
> +Internet.pdf>,
> que o Ale (o único que removeu a restrição Non Comercial!) divulgou
> aqui esses dias:
>
> * Receita para fazer livro
> <http://www.naozero.com.br/making-off-para-entender>
>
> 2009/3/20 Thomas de Souza Buckup <thomasdesouzabuckup@gmail.com>:
>
> > Uma alternativa seria conversarmos diretamente com alguém da
> > secretaria de educação em sp para chegarmos a um modelo de mutirão
> que
> > contasse com voluntários dos projetos da wikimedia e os professores
> em
> > sp.
>
> Acho uma boa falar com a secretária Maria Helena Guimarães de Castro.
>
> Off-topic:
>
> Vejam uma entrevista dela:
>
> http://arquivoetc.blogspot.com/2008/02/veja-entrevista-maria-helena-guimares.html
>
> Veja – Qual seria o melhor caminho para elevar o nível dos
> professores?
>
> Maria Helena – Num mundo ideal, eu fecharia todas as faculdades de
> pedagogia do país, até mesmo as mais conceituadas, como a da USP e a
> da Unicamp, e recomeçaria tudo do zero. Isso porque se consagrou no
> Brasil um tipo de curso de pedagogia voltado para assuntos
> exclusivamente teóricos, sem nenhuma conexão com as escolas públicas e
> suas reais demandas. Esse é um modelo equivocado. No dia-a-dia, os
> alunos de pedagogia se perdem em longas discussões sobre as grandes
> questões do universo e os maiores pensadores da humanidade, mas
> ignoram o básico sobre didática. As faculdades de educação estão muito
> preocupadas com um discurso ideológico sobre as múltiplas funções
> transformadoras do ensino. Elas deixam em segundo plano evidências
> científicas sobre as práticas pedagógicas que de fato funcionam no
> Brasil e no mundo. Com isso, também prestam o desserviço de divulgar e
> perpetuar antigos mitos. Ao retirar o foco das questões centrais,
> esses mitos só atrapalham.
>
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