2010/5/1 Diego Rabatone Oliveira <diraol@polignu.org>
Deixo aqui uma contribuição com relação à questão das comunidades científicas referente à minha experiência pessoal de estudante universitário engajado na luta pelo conhecimento livre.
Muitos (MUITOS) professores universitários não são favoráveis a projetos como a wikipédia enquanto "fonte confiável" por acreditarem numa meritocracia baseada em títulos. Se você não tem uma determinada titulação não tem capacidade para escrever e/ou averiguar informações sobre assuntos "técnicos". Isso é com relação à credibilidade da pédia.
Já com relação à participação destes mesmos na pédia, editando artigos e tudo mais, creio que a maioria não participa pois ainda é favorável ao modelo "padrão" de propriedade intelectual, na qual ele desenvolverá um livro que será editado por uma grande editora para ser vendido e usado como referência em diversos cursos (inclusive, claro, o que ele ministra). Isso é muito claro para mim.
Em 2007 eu tive um professor de eletromagnetismo que havia produzido uma apostila com mais de 300 páginas para sua disciplina. Essa apostila estava em PDF e era disponibilizada aos estudantes do curso (apenas no semestre em que o curso era dado, se eu não tiver mais ela hoje e quiser fazer o download não poderei mais). Ela foi toda "transcrita" para LaTeX, e conversamos com o professor sobre a possibilidade de disponibilizar a apostila numa plataforma wiki sob uma licença livre.
Não conseguimos nada, ele foi contra pois queria utilizar aquele material para fazer um livro para vender e ganhar dinheiro, e as editoras não aceitariam editar o livro caso estivesse disponível na web.
E isso é muito recorrente. Até lista de exercícios alguns professores se recusam a disponibilizar em formato digital. Isso na USP.

Existe sim, ainda, um preconceito muito grande da comunidade acadêmica (leia-se professores-pesquisadores, em especial os "mais velhos"). Isso é uma pena, e é muitíssimo difícil de lidar. Assim como o debate sobre software e licenças livres também é complicadíssimo dentro da Universidade, que acredita na propriedade intelectual e nas patentes.

Pessoalmente sou acho que toda e qualquer pessoa pode contribuir com qualquer tema. Se ela não tem conhecimento prévio ela pode pesquisar, se ela não quer pesquisar, ela pode averiguar outras características do texto como ortografia, gramática, clareza do texto, formatação, dentre outras coisas. Todos podem contribuir, não acho que tenha alguém que seja incapaz de contribuir minimamente com qualquer artigo.
Claro que uma pessoa escolada num determinado tema pode contribuir, inicialmente, numa velocidade um pouco maior (no que se refere a conteúdo e indicação de fontes), mas também pode ficar devendo em clareza textual, formatação do conteúdo, e por ai vai. E outra, ela pode conhecer um ponto de vista sobre o tópico, mas pode ser que algum "leigo" possa oferecer um outro ponto de vista que "encontrou por ai". Enfim. Viva a diversidade e a capilaridade da pédiaPT!

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Diego Rabatone Oliveira


Concordo com você Diego, é muito difícil romper essa barreira que muitos acadêmicos tem. Quem pode falar muito bem sobre isso é o Tom que está engajado com recursos educacionais abertos e já sentiu na pele como é esse preconceito que, infelizmente, a maioria dos professores tem em relação à tecnologia e as novas possibilidades que ela apresenta. Mas também é complicado para os pesquisadores se dedicarem a projetos colaborativos quando no mundo acadêmico se usa como medida a quantidade de publicações e citações. E isso traz muitos outros problemas além da indisponibilidade de participar de projetos colaborativos como a wikipédia. Muitas vezes a questão nem é o dinheiro que o professor ou pesquisador vai conseguir com a venda de um livro, mas as verbas que o projeto/laboratório/departamento vai ou não receber em função da quantidade de publicações.

É claro que mesmo sem conhecimento ou disposição pode-se ajudar na forma do texto, wikificando, etc. As minhas colocações são basicamente sobre o conteúdo em si e restrito a um conjunto pequeno de assuntos de complexidade maior.

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Luiz Armesto

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