Eu nem pretendia comentar, mas como hoje me deparei com uma discussão de um assunto semelhante na Wikipédia, com um enfoque comparável àquele levantado por essa discussão na lista, resolvi me manifestar, assim como fiz por lá.
Na Wikipédia lusófona (digo porque não conheço a situação das outras) o panorama do projeto colaborativo tem se invertido. Hoje (e já há bastante tempo), ao invés de os usuários colaborarem com o acervo da Wikipédia, são os editores mais assíduos que colaboram (ou não) com essas pessoas. Se o artigo que você criou não for eliminado sob um daqueles critérios interessantemente arbitrários e não verificáveis (como se preconiza seja o conteúdo), é você que tem de estar agradecido por isso não ter ocorrido. Na verdade, a filosofia da construção colaborativa do conhecimento ficou totalmente esquecida nessa história. O que há é uma construção e uma patrulha organizada, capaz de definir o que serve e o que não serve, viabilizando tanto a construção quanto à destruição, ao seu prazer. Eu me pergunto como esses critérios são definidos. Ora, se grandes estudiosos têm dificuldades de definir o que não é importante em sua ciência, quem somos nós para querer deliberar sobre todas as ciências que compõem "a soma do conhecimento humano"?
Tenho dificuldades em reconhecer comentários como "começou a editar pelo lugar errado". Não consigo conceber a ideia de que exista um caminho das pedras para editar a Wikipédia e ser bem-sucedido. É um projeto voluntário e o indivíduo é livre para começar por onde quiser e parar onde julgar adequado. Afinal, eu desconheço completamente quais são as intenções daquela pessoa ao buscar editar a Wikipédia. Se hoje temos um grupo interessado em melhorar os artigos de determinados departamentos da USP, maravilha! Não importa se o artigo da USP ou da Engenharia Naval não prestam... Não é razão para desmerecer o trabalho deles, naquela altura. Pode ser que demore anos para outras pessoas pensarem em elevar a qualidade de tais artigos. Então é melhor garantir agora. Todos devem ter boas experiências na Wikipédia, mesmo que criem um artigo realmente passível de eliminação, como um currículo, por exemplo. E para isso é preciso estar aberto à conversa, o que não tem sido corrente atualmente.
Existe um excesso de zelo pela Wikipédia. O que eu, particularmente, acho lindo. São pessoas devotadas ao projeto, de verdade. Investem um tempo fenomenal nos assuntos da Wikipédia, tempo esse que poderia ser desviado para atividades muito mais prazerosas e/ou lucrativas. Ocorre, porém, que muitos de nós esquecemos, no afã de servir, da base sobre a qual o projeto se sustenta, que é, justamente, o colaboracionismo. Não existe aquela cooperação na Wikipédia prevista quando de sua concepção. Há um jogo de vaidades, egos distorcidos, ânimos permanentemente exaltados, intolerância deliberada... Ah! Mas não são os 50% do total de editores. Não mesmo... São uns poucos 2% que berram como se fossem 90. Talvez seja a hora de iniciar um movimento de contra-corrente, para mostrar que é possível ser produtivo sem ser arrogante, sem ignorar a discussão, trabalhando em conjunto etc.
Eu não falo isso do alto de minha sabedoria e experiência, porque elas não existem. Essas conclusões são decorrentes de uma análise que eu tenho feito desde que me afastei um pouco da edição contínua e maciça no projeto, a qual eu praticava antes. Realmente é difícil lidar com a enormidade de vandalismos que nós recebemos todos os dias. Os números são verdadeiramente altos, o que pode ter gerado essa atitude defensiva dos editores mais vigilitantes. Mas, eu me pergunto, se, na verdade, essa atitude não teria sido a real motivadora para o número aberrante de vandalismos que recebemos? Não teríamos caído no descrédito do povo, que vê a Wikipédia como um joguete? Se conseguíssemos passar seriedade e comprometimento para aquelas pessoas que se utilizam do nosso acervo, certamente elas seriam mais conscientes da importância de mantê-lo em ordem.
Vinicius