Joaquim e demais,
Acho que a bronca do Jo Lorib não foi por causa do desconhecimento. Repare na frase:
"O que nos falta é pessoal, não projetos colaborativos.". Concordo plenamente
com ele nesse ponto.
Já que estamos falando de educação vou "estripar" nosso conhecimento para
facilitar as colocações. A grande maioria (se não todos) dos projetos da WMF se baseiam em
dois pontos fundamentais:
- Uso da tecnologia wiki;
- Uso da ideologia "livre";
Pois bem, qualquer ação educativa ou sócio-política coerente deverá atentar para esses
pontos, em conjunto ou separados.
Tudo que for além disso ultrapassa o escopo dos projetos e se torna ativismo político ou
ativismo mercadológico.
Portanto - retomando a frase do Jo Lorib -, precisamos é de pessoas capacitadas na
tecnologia e defensoras da ideologia. Nem mais, nem menos.
Abraços,
Pietro
________________________________
De: Joaquim Mariano da Costa Neto <joaquimmariano(a)yahoo.com.br>
Para: Wikimedia Brasil <wikimediabr-l(a)lists.wikimedia.org>
Enviadas: Quarta-feira, 10 de Dezembro de 2008 6:10:32
Assunto: Re: [Wikimedia Brasil] Educação
Esse é o problema de ser um neófito abusado: corro o risco de chover no molhado!
Sempre fico receoso com o que exponho nesta lista, justamente porque sou bastante
novato no mundo wiki. Todo dia estou aprendendo e sempre tenho a impressão de que me falta
muuuito.
Inicialmente tomei maiores liberdades por aqui, porque entendo um pouco de
constituição de pessoas jurídicas (e sei que é melhor viver sem elas!) e era isso que
estava sendo discutido. Além disso, acompanho questões judiciais sobre censura, o que é
bastante pertinente aos projetos wiki.
Sei que a colaboração entre portugueses e brasileiros na Wikipédia lusófona é grande e
uma idéia era aproveitar justamente esses laços estreitos para termos um maior contato com
um projeto que me parece interessante, como esse projeto da Escola da Ponte, em Portugal.
No âmbito da Wikimedia Brasil, isso poderia alavancar ações em escolas públicas, com já
acontece com a Escola Municipal Desembargador Amorim Lima, em São Paulo. Apenas isso.
E todo bate-papo é sempre muito bem-vindo.
Joaquim Mariano da Costa Neto
________________________________
De: João <jolorib(a)gmail.com>
Para: Mailing list do Capítulo brasileiro da Wikimedia.
<wikimediabr-l(a)lists.wikimedia.org>
Enviadas: Terça-feira, 9 de Dezembro de 2008 12:59:46
Assunto: Re: [Wikimedia Brasil] Educação
Joaquim, Tomas
Como bom e velho wikipedista, fico arrepiado, às vezes de vocês não participarem e
conhecerem os projetos da Fundação Wikimédia.
Não que quem participa seja melhor ou pior, mas é que às vezes vocês sugerem coisas que
simplesmente já existem.
A Wikipédia é um dos pouquissimos locais da Internet onde portugueses e brasileiros
colaboram e convivem entre sí. Temos larga tradição nisso. Eles inclusive tentam também
dar um start na pt Wikimédia
Outro dia alguém sugeriu a possibilidade de uma Wik em língua dos povos indígenas sem ter
a mínima idéia de que já existe uma Wikipédia em guarani (são mais de 200idiomas) e que
para começar uma nova basta apenas alguém interessado que saiba escrever no idioma.
Outro sugeriu gravar artigos em aúdio para deficiêntes visuais. É só gravar, está tudo
pronto para começar, o software, local para arquivar, sintaxe para colocar nos artigos.
Os senhores não conhecem o Wikiversidade, não conhecem o Commons, o Wikisource e o
Wikilivros.
Tomas, o MediaWiki é só o espaço administrativo, a colaboração se dá nos projetos.
O que nos falta é pessoal, não projetos colaborativos.
Acho que deviamos marcar um encontro para um bate-papo. Aceleraria o entendimento.
Jo Lorib
2008/12/9 Thomas de Souza Buckup <thomasdesouzabuckup(a)gmail.com>
Joaquim,
Concordo 100% com o que você escreveu.
Também achei bastante interessante e cheio de potencial a idéia de aprofundar o diálogo
com a Escola da Ponte. Será que você não estaria interessado em abrir uma página para esse
projeto no Meta? Se sim, pode contar com o meu apoio voluntário e de alguns outros
contatos que certamente ficarão interessados nessa iniciativa (voluntária,
descentralizada, autônoma...).
Abraços,
Thomas
2008/12/9 Joaquim Mariano da Costa Neto <joaquimmariano(a)yahoo.com.br>
Justamente pelo fato de a educação ter vários problemas aos quais são apresentadas as
mais variadas soluções (que são as mais antagônicas possíveis), não podemos querer abraçar
todas as iniciativas e todas as soluções. Se o "nosso papel será mostrar um
caminho" (acredito que seja o caminho da construção livre, democrática e
colaborativa), acho que devemos defender, apoiar e incentivar as propostas cuja orientação
coincida com a nossa. Nos casos em que não houver essa coincidência de orientação, podemos
e devemos apresentar o caminho de um projeto livre e colaborativo, sem, todavia, sair
abraçando aqueles projetos que permanecerem num caminho não livre e não colaborativo.
Isso vale para a educação e para qualquer outro assunto que chegue até nós. Com
exceção da construção livre e colaborativa do conhecimento, não seremos, em princípio,
especialistas em nenhum assunto específico, mas teremos iniciativa e percepção para buscar
caminhos livres e colaborativos nos mais variados assuntos.
Eu, por exemplo, entendo pouco de educação, mas tenho conhecimento da Escola da Ponte,
em Portugal, que há décadas desenvolve maravilhosamente bem um projeto de educação livre,
democrática e colaborativa. Não é o caso de uma grande convergência de princípios e
objetivos? Eles entendem tudo de educação e não vejo razão para não haver uma interação
maior entre um movimento como o nosso e o projeto deles. Ambos (Wikimedia Brasil e Escola
da Ponte) podem se beneficiar enormemente com essa convergência e uma conseqüente
interação. Esse é apenas um exemplo. É um exemplo de concretização trabalhosa, porque o
Atlântico nos separa, mas, com Internet, as distâncias ficam um pouco menores. Além disso,
não precisamos ir a Portugal para encontrar projetos como o da Escola da Ponte. Ela é o
exemplo mais conhecido (e talvez um dos mais bem sucedidos) na comunidade lusófona, mas
espero que não seja o único.
Indo além: por que não aproveitar a coincidência de princípios, meios e objetivos que
existe com a Escola da Ponte, fazer a ligação (para não dizer ponte...) entre lá e cá, e
ajudar a experimentação desses caminhos em escolas brasileiras (preferencialmente
públicas) que demostrem interesse?
Enfim, considerando apenas as opções de caminhar ao lado de projetos que se coadunem
com o nosso, as possibilidades já são inúmeras. Acho que não precisamos e não devemos
abraçar quem não compartilha o nosso caminho. A liberdade e a colaboração podem fazer um
bem enorme à educação, mas aqueles que querem fazer uma educação opressora e
individualista continuarão a existir. Devemos abraçar esses? Acho que não devemos
apedrejá-los, mas também acho que não devemos abraçá-los. O nosso trabalho sempre estará à
disposição deles, para que aproveitem como quiserem. Estaremos abertos, receptivos e
dispostos, mas sempre no caminho da construção livre, democrátiva e colaborativa.
Joaquim Mariano da Costa Neto
________________________________
De: Alexandre Hannud Abdo <abdo(a)usp.br>
Para: Mailing list do Capítulo brasileiro da Wikimedia.
<wikimediabr-l(a)lists.wikimedia.org>
Enviadas: Terça-feira, 9 de Dezembro de 2008 1:39:42
Assunto: Re: [Wikimedia Brasil] Educação
Ni!
Sobre educação:
Acho que o Mutirão deve abraçar todas as iniciativas de ensino,
públicas ou privadas, laicas ou não.
Nosso objetivo deve ser mostrar como todas as formas de aprendizado se
encontram e beneficiam-se mutuamente no uso de recursos educacionais
livres e na construção colaborativa do conhecimento.
Educação é um tema muito mais amplo e profundo do que a parte que nos
toca.
Ela permeia desde questões econômicas básicas como igualdade de
oportunidades até questões complexas de psicopedagogia organizacional
como o papel da hierarquia na sala de aula.
Nós não vamos resolver "o problema da educação", até porque não existe
um problema só, nem uma só solução.
Nosso papel será mostrar um caminho, um princípio que pode ser aplicado
em qualquer contexto e que, por sua natureza, aproximará a todos para
que cada um se beneficie do que o outro tem a oferecer.
Ao mesmo tempo, a educação pública - gratuita, laica e de qualidade -
fundamenta qualquer solução política para a educação, porque garante um
direto humano e também porque ela detemina o patamar para as demais
componentes privadas.
Assim, acho importante que os princípios esclareçam que o ensino
público será contemplado com prioridade, mas que todos os espaços de
ensino são bem vindos.
Abs,
ale
~~
On Mon, 2008-12-08 at 17:55 -0800, Joaquim Mariano da Costa Neto wrote:
Eu sempre gostei da idéia de aceitar dinheiro de alguém contra
quem nós trabalhamos. Pessoalmente, acho que reforça e valoriza o
nosso trabalho saber que alguém tentou comprar nossa simpatia e não
foi bem sucedido. Não seria interessante se, por exemplo, o Greenpeace
recebesse dinheiro da Standard Oil e, mesmo assim, ocupasse as suas
refinarias? Obviamente a Standard Oil suspenderia os cheques no dia
seguinte. De qualquer forma, acho que isso reforçaria a isenção do
Greenpeace.
O problema disso é a mulher de César. Realmente é difícil se fazer
acreditar honestamente, quando quem paga as suas contas é justamente
quem você diz combater.
Assim, quanto a essa restrição de doação, sou indiferente. Eu sei
o que faço e sei que um cheque da Microsoft, por exemplo, não vai
mudar o que faço. Como já disse, eu pessoalmente até gostaria de
receber um cheque da Microsoft e mostrar para ela que eu continuo
defendendo o software livre exatamente como eu defendia.
Se acharem cabível, o ponto de reforço pode ser aprofundado:
- As doações que aceitarmos não serão dedutíveis de qualquer tributo e
não implicarão qualquer privilégio, ônus, obrigação, dependência ou
vinculação com o doador. Não receberemos doação de doador que
discorde, contrarie ou viole os nossos princípios estabelecidos ou as
ações e atividades que empreendemos.
Quanto à democratização do conhecimento, é muito simples: não se
alcança a democratização do conhecimento sem que a educação seja
democratizada. Sem educação plena, nenhuma Wikipédia consegue
democratizar o conhecimento. E para democratizar a educação, ela
precisa ser boa, ampla (vertical e horizontalmente), gratuita,
excitante (porque pensar e aprender deveriam ser atividades
extremamente prazerosas), etc., etc., etc. Pontos sobre financiamento
estão rodando. E sobre conhecimento e educação? Vamos?
Joaquim Mariano da Costa Neto
______________________________________________________________________
De: Porantim <porantim(a)gmail.com>
Para: Mailing list do Capítulo brasileiro da Wikimedia.
<wikimediabr-l(a)lists.wikimedia.org>
Enviadas: Segunda-feira, 8 de Dezembro de 2008 22:29:42
Assunto: Re: [Wikimedia Brasil] [Organização]
Joaquim, gostei da sua formulação, mas acho que falta ainda alguma
coisa.
Além de declararmos que não vamos nos meter nessa fossa que são as
ONGs no Brasil, temos que dizer que nos posicionamos contra o que
fazem.
Será que aceitamos dinheiro de qualquer um? O Greenpeace, por exemplo,
tem suas contas pagas pela Standard Oil (dona da Exxon Mobil e uma das
maiores poluidoras do mundo), através da Fundação Rockefeller [1].
Como pode se dizer sério se quem paga suas contas é quem vc diz
combater? Óbvio que o Greenpeace nunca se levantou contra a Exxon ou a
SO...
Na mesma linha, se defendemos a democratização do conhecimento,
precisamos defender a democratização da educação, sua gratuidade,
qualidade e dignidade.
-- Porantim
[1]
http://www.rbf.org/grantsdatabase/grantsdatabase_show.htm?doc_id=616987
http://www.undueinfluence.com/greenpeace.htm
2008/12/8 Joaquim Mariano da Costa Neto <joaquimmariano(a)yahoo.com.br>
Concordo com todos os pontos colocados pelo Porantim na
mensagem abaixo e na justificativa.
Se entendi corretamente, a idéia é não aceitar dinheiro
público (inclusive aquele dinheiro que é deduzido de impostos,
que, na verdade, é dinheiro público cujo destino é resolvido
pelo particular) e não aceitar dinheiro mediante contrapartida
(prestação de serviço, por exemplo). Nesse sentido, doação
privada não dedutível é algo permitido. Assim, talvez fosse
interessante reforçar que a doação não nos obriga em nada.
Então, uma idéia para um ponto de reforço:
- As doações que aceitarmos não serão dedutíveis de qualquer
tributo e não implicarão qualquer privilégio, ônus, obrigação,
dependência ou vinculação com o doador.
Joaquim Mariano da Costa Neto
______________________________________________________________
De: Porantim <porantim(a)gmail.com>
Para: Mailing list do Capítulo brasileiro da Wikimedia.
<wikimediabr-l(a)lists.wikimedia.org>
Enviadas: Segunda-feira, 8 de Dezembro de 2008 20:09:36
Assunto: Re: [Wikimedia Brasil] Res: [Organização]
Alguns dos pontos que creio que não podemos abrir mão são
(falando em
financiamento):
- Acreditamos que o dinheiro público deve ser usado no serviço
público, na escola pública, na saúde pública, no transporte
público.
- Não aceitamos financiamento público nem direta nem
indiretamente.
Não aceitamos benefícios fiscais em troca de doações.
- Não prestamos serfiços públicos, seja em forma de Oscip, PPP
ou
qualquer outra.
- Cremos na educação pública, gratuita, laica e de qualidade,
para
todos, em todos os níveis.
- Não prestamos nenhum tipo de serviço em troca de paga direta
ou
indiretamente. Nosso trabalho é voluntário e gratuito.
A justificativa e formulação já foram enviadas à lista em
28/11.
-- Porantim
2008/12/8 Thomas de Souza Buckup
<thomasdesouzabuckup(a)gmail.com>om>:
Obrigado Porantim. Sim, ajudaria bastante se você
pudesse
responder às
perguntas resumidas na minha última mensagem,
assim
conseguiremos avançar
com a discussão, sabendo também a sua opinião
sobre o
assunto de forma ainda
mais sistematizada.
Com relação à [Organização] e [Financiamento], acredito
profundamente no
que
está escrito nos dois primeiros parágrafos
(copiados abaixo)
da
primeira proposta para a Carta de Princípios:
"A Wikimedia Brasil é um espaço aberto para debate, desenho
de
propostas,
articulação de ações e troca de experiências
entre
voluntários interessados
em realizar de maneira descentralizada e
auto-organizada
iniciativas que
promovam produções colaborativas de conhecimentos
livres a
serviço do
desenvolvimento harmonioso da humanidade.
[Organização]
A Wikimedia Brasil articula com independência e autonomia
iniciativas que
podem contar com a colaboração de organizações
públicas,
privadas e da
sociedade civil, mas, sem representá-las, ou por
elas ser
representada, em
qualquer esfera." [Financiamento]
Acredito que o texto acima destaca os elementos fundamentais
("abertura",
"descentralização",
"auto-organização", "independência" e
"autonomia") para
que voluntários sintam-se sempre engajados e se
tornem
empoderados para
atuar, independentemente de formatos jurídicos ou
condições
de financiamento
específicos, que podem se alterar ao longo do
tempo de
existência desta
comunidade.
Num primeiro momento, que pode durar poucos anos ou algumas
décadas,
considero como adequado o modelo de um movimento
que conta
exclusivamente
com a dedicação e articulação voluntária de sua
comunidade.
Mas não tenho a
pretensão de saber ou determinar qual o formato
jurídico ou
a relação com
potenciais financiadores que deverá existir em
2050. Vejo
apenas o
compromisso de assegurarmos hoje que
"abertura",
"descentralização",
"auto-organização",
"independência" e "autonomia" façam
parte do modelo
escolhido pela comunidade hoje e em 2050, pois
disso "não
podemos abrir
mão", respondendo ao comentário da Béria.
Você é certamente muito bem-vindo a modificar ou detalhar
cada um dos
pontos
com o seu ponto-de-vista, caso discorde ou
concorde com a
minha opinião.
Abraços,
Thomas
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